Tainá Rei é uma artista visual e escritora de 23 anos que vive e
trabalha no Rio de Janeiro.
Participou de duas antologias e publicou de
forma independente alguns de seus contos.
Como cineasta, esteve em festivais de cinema com produções de curta metragem e vídeo arte.
O poema abaixo é inédito.
Ritual
você consegue ver todas as imagens, ouvir todos os sons,
toda a informação que circula por essa praia agora? a alguns metros, milhares
de conexões e alguém deve estar baixando um filme do bela tárr. teu cérebro é
igualmente capaz de conexões; está na hora de expandirmos sua capacidade.
"meus sonhos são por demais estranhos. às vezes meu
irmão aparece de forma imprecisa, mas certamente sexual. sinto o gosto de carne
sangrenta com sal."
se pudéssemos vulgarmente acessar toda essa movimentação,
uma grande névoa dificultaria mesmo abrir os olhos.
"que tipo de sacrifício a iluminação exige?"
eu prefiro o termo dieta.
"há quanto tempo você está nessa?"
no começo você só ouve o mar, vê a espuma e as marcas na
areia. as luzes urbanas e a lua, se for noite de lua. o som dos carros. sua
própria respiração. toma consciência de seu corpo e do peso que ele exerce
nessa parte da Terra.
o espetáculo não se repete e precisa que você esteja lá.
engajados em uma dieta adequada, é possível sentir a
vibração das conversas que aconteceram há poucos segundos atrás.
se você for paciente, nada acontece por muito tempo.
a maioria de nós nunca alcançará esse tipo de
experiência, mas todos somos capazes de receber, decodificar e distorcer os
dados que circulam por ondas.
"eu também?"
(ele sorri complacente e perde a atenção no meu rosto)
eu gostaria que você pudesse ver isso. é simplesmente
lindo.
(estou fascinada, mesmo achando a ideia pouco provável)
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