Desde 2006, edita o jornal literário Plástico Bolha, que já publicou centenas de autores, entre novos e consagrados.
Lançou os livros Memórias Indianas (2007), sobre sua primeira viagem para a Índia, e Retorno ao Oriente (Rio de Janeiro: 7 Letras, 2008), que continua a narrativa poética sobre o leste do mundo, além de Contos de Mary Blaigdfield, a mulher que não queria falar sobre o Kentucky - e outras histórias (Rio de Janeiro: 7 Letras, 2010), Antologia de prosa Plástico Bolha (organizador, 2010), Curtos e Curtíssimos (2012), Muestras (2013), Corpo Pouco (2013) e a Antologia de poesia Plástico Bolha (2014).
Após passar pelo "CEP 20.000", onde trabalhou com o poeta Chacal, organizou eventos como o "Labirinto Poético" e o "Estação Nordeste" para a Cidade das Artes e a Prefeitura do Rio.
Seu trabalho mais recente foi a curadoria da exposição "Poesia Agora", no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, no ano de 2015, e a tradução do livro O estranho mundo de Jack, de Tim Burton, publicado este ano pela Editora Cobogó.
Já participou de diversos festivais de poesia pela América Latina e recebeu, em 2012, o prêmio Agente Jovem de Cultura, concedido pelo MinC.
Sua escrita é urbana, marcada pelo compasso da fala e pela conversa com pensamentos e personagens interiores quase sempre representados por paisagens, objetos ou criaturas.
ao explorar cidades estranhas
encontrar-me não é o pior
se faço consulta cartográfica
uma séria pergunta me assola
mas por que há de ser tão difícil
dobrar novamente um mapa?
questiono o quanto aguentarão
suas juntas até se soltarem
em quadrados avulsos — enfim
novo planejamento urbano
a cada vez que fico perdido
mais difícil é dobrar o mapa
como se uma cidade não se
comprimisse assim, impunemente
#
Parada obrigatória
A saída abrupta
do Coffee Shop desestabiliza cones
e bastonetes fazendo do traçado
pincelado da cidade um enorme quadro de Van Gogh.
Estruturas de
tijolos vermelhos e letreiros luminosos andam ritmicamente para trás deixando o
trem imóvel em seu lugar.
A solidão desoladora
de uma bicicleta esquecida
em
frente à lanchonete onde é servido lixo temperado em gavetas.
Em cada
esquina um mictório público insinua-se como o maior monumento à dignidade já
erguido
pela Civilização Ocidental.
Três X em seu
brasão antecipam seu filme pornô, seus disparates, suas putas emolduradas em luz
vermelha chamando com o dedo indicador.
Cruzo o museu
com nome de espirro que um amigo jura já ter ido comigo, mas que só fui pela
primeira vez dois anos depois.
Esse
Vondelpark é vasto demais e as coisas do Moacir Santos tocando em meus ouvidos fazem
florescer os fungos transcendentais.
Passeio
errático por infinitas pontes arqueadas cruzando simétricos barcos nos quais
sei que nunca irei morar.
#
Em Lisboa
Vejo às margens deste Tejo,
vindo a flutuar, senil,
a lembrança de um beijo
que jamais aconteceu.
Eis que uma gaivota branca
chegada não sei de onde
com fino bico a apanha –
sai voando para longe.
Ei! Devolva-me, gaivota!
Mesmo que não seja jovem,
quero essa minha memória.
Pois dentro de todo homem
há sempre lugar na história
Para aquilo que não houve.
vindo a flutuar, senil,
a lembrança de um beijo
que jamais aconteceu.
Eis que uma gaivota branca
chegada não sei de onde
com fino bico a apanha –
sai voando para longe.
Ei! Devolva-me, gaivota!
Mesmo que não seja jovem,
quero essa minha memória.
Pois dentro de todo homem
há sempre lugar na história
Para aquilo que não houve.
#
Aldeia Velha
despenco
como um
barranco
aberto em
beira de estrada
pelos pastos
ressecados
meus desejos,
os bois magros
nosso
projeto, aquele ipê
derretendo
amarelo
idéias que
piscam no escuro
erodir por completo
aos urubus
minha carcaça
resta somente
o ipê
amarelo como
um farol
em nossas
insustentáveis
pastagens
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