Alberto Pucheu é
um poeta, ensaísta e professor de Teoria Literária da
UFRJ nascido no Rio de Janeiro em 1966.
Seu livro de poemas A fronteira desguarnecida (Rio de Janeiro: Editora 7Letras, 1997) foi
vencedor do Programa de Bolsas para Escritores Brasileiros, da Fundação
Biblioteca Nacional, enquanto o de ensaios Pelo colorido, para além do cinzento: a literatura e seus
entornos interventivos (Rio de
Janeiro: Azougue Editorial, 2007) recebeu o Prêmio Mário de Andrade de Ensaio Literário,
também da Fundação Biblioteca Nacional.
Seja como poeta ou ensaísta, o fato é que muitos de
seus livros vêm recebendo resenhas nos jornais de maior circulação do país, em
sites específicos e em periódicos acadêmicos, e Pucheu tem alcançado cada vez
maior visibilidade e inserção.
Importante figura no cenário cultural e na cena
poética da cidade do Rio de Janeiro desde a década de 1990 até os dias de hoje,
sua escrita poética busca sempre uma flexibilização da palavra enquanto gesto e
a dissolução de éticas consolidadas visando novas conclusões e construções,
além de uma aproximação entre a prosa e a poesia, levando esta às últimas
instâncias de suas características. Outro importante fator de sua escrita é a
recorrência de temas ligados a natureza ou com caráter filosófico capaz de
escapar do conformismo comunicativo da estabilidade poética.
Em 2011, sob a curadoria de Beatriz Rezende, no evento
internacional ArteFórum, ele expôs 20
de suas fotografias tiradas de frases grafitadas em ruas de diferentes cidades
do mundo, sob o título de “Paisagens urbanas quase sem paisagens”. Em julho daquele mesmo ano realizou a
instalação “Palavras”, no
Oi Futuro de Ipanema, no projeto Poesia
Visual, sob a curadoria de Alberto Saraiva (essa série de exposições e
instalações contou também com mostras de Ferreira Gullar, Antonio Cícero,
Wladimir Dias Pino, Tadeu Jungle, Helena Trindade, Roberto Corrêa dos Santos e
Lúcio Agra).
Como ensaísta, seus últimos livros foram apoesia contemporânea, de 2014, e Kafka poeta, de 2015, ambos pela Azougue
Editorial.
Como poeta,
destacamos mais cotidiano que o cotidiano,
2013, A fronteira desguarnecida: poesia
reunida 1993-2007 (os dois igualmente pela Azougue) e Designação provisória, em parceira com Victor Heringer, pela Luna
Parque Edições, em 2015.
Para saber mais
sobre o autor, visite a sua página pessoal.
Abaixo, dois
poemas inéditos de Alberto Pucheu.
Socavão – uma lição de nomear
guimarães rosa o
escreve de alguns modos:
ele fala de uma
velha fazenda,
cuja casa tinha um
cômodo
quase do tamanho
dela,
por debaixo dela,
socavado no antro
do chão
onde judiavam com
pessoas,
com escravos, até
aos poucos
matar, ele fala,
por exemplo,
que havia uma cava
grande,
onde o inimigo
estava emboscado
dos dois lados,
nos socavões,
nas paredes, ele
fala, por exemplo,
que os das socavas
entornaram
sangue-frio
enquanto os demais
se assustaram,
correndo em fuga maior
debaixo dos tiros,
ele fala,
por exemplo, que
alguém estava
socavando com
ferramenta
a fito de abrir
torneiras na parede
por onde buraco de
se atirar
durante aquela
guerra sem fim,
ele fala, ainda,
que eles não saíam
dos solapos, dando
cria
feito bichos em
socavas,
mas, por
experiência do lugar,
acrescento o que
já falei,
que no socavão tem
oco, cavo,
vão, e explico:
aqueles vazios
pelas montanhas,
abertos,
por gestão
natural, por debaixo da terra,
quando chove,
vindo, a chuva
adentra os poros
dos morros,
soca o corpo da
terra, mistura-se
a ele
atravessando-o até encontrar
seus ocos, seus
cavos, seus vãos,
até encontrar o
socavão, então,
a água ali se
armazena e, seguindo
o feitio inclinado
da montanha,
desce por ela,
procurando uma brecha,
procurando,
pequena que seja, uma saída,
pela qual forma a
nascente, a fonte,
corrigindo um
tópos conhecido
da história da
poesia e da filosofia
que diz que a
fonte é metáfora de origem,
esta topografia,
entretanto, ensina
que a fonte ou a
nascente
não é a origem,
que o socavão
é a fonte da
fonte, a nascente
da nascente... mas
como não pensar
que a água
guardada em movimento
pelo socavão, a
água que possibilita
a nascente ou a
fonte, não foi brotada ali
do nada, por
geração espontânea,
que a água
guardada em movimento
pelo socavão vem
da chuva,
e que tudo está
mesmo aberto pelo meio?
#
Vale do Socavão
Quando eu cheguei
aqui,
já estavam as
pedras, os animais
e as árvores, já
estavam
o rio, o céu e as
estrelas,
quando eu cheguei
aqui,
já estavam a terra
e o capim,
o sol e as chuvas
e os raios
e os trovões já
estavam aqui.
Quando eu cheguei
aqui, eu cheguei
depois, como todas
as pessoas
que aqui chegaram
chegaram depois, e
eu cheguei
ainda depois de
algumas pessoas
que também já
estavam aqui
antes que eu tenha
chegado.
Eu cheguei depois.
Eu sempre chego
depois que
qualquer outro
tenha chegado, e,
como eu chego
sempre depois
de qualquer outro,
são com esses e
outros quaisquer
outros que
chegaram
antes de mim que
eu chego
ainda agora, que
eu continuo
e continuarei
chegando
depois, depois,
desde sempre
e inclusive agora,
eu chego
depois. Mesmo
daqueles
que supostamente
chegaram depois
de mim, eu cheguei
e sigo
chegando depois.
Eu chego depois.
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