sexta-feira, 17 de junho de 2016

Pedro Craveiro

Pedro Craveiro é um poeta e pesquisador nascido no Porto, em Portugal, em 1990.
É licenciado em Estudos Portugueses e Lusófonos e mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) com a dissertação hoje sem musa apenas meu nome escrito na blusa: a Beat Generation e o Budismo Zen em Paulo Leminski (2014).
Recentemente, foi admitido no Doutoramento em Línguas e Literaturas Hispânicas, na Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara (UCSB), e sua investigação tem se desenvolvido em torno da literatura brasileira e portuguesa contemporâneas.





Copacabana dreams

entre nós
um continente
e dois oceanos
de distância

então o amor é isto
cada um por sua conta
e o cheiro a poema velho


#


To die in L.A.

no princípio era o verbo
breathe it in and breathe it out
todos os distritos em alerta amarelo
e os teus joelhos eram a minha casa
esse era o tempo em que o teu cabelo
fixava o ralo do chuveiro
e eu reclamava             a mãe não pode ver cabelos no ralo

no princípio era o medo
de amar-te por inteiro
sem esquecer-te na metade
todas as manhãs esperava-te à janela
e repetia, como te quero mais
cedo entendi que o medo por prisão
era a certeza dos nossos flancos
tu sabias como me convencer
e trazias sempre um livro para dois
quantos poemas te escrevi
uma tarde, recordo-me agora, perguntaste
se a minha poesia mudaria o mundo
é claro que não

no princípio era a poesia
em cada casaco achava um isqueiro teu
em cada café o teu sabor
num maço de marlboro os dias mais ásperos.


#


Heartquake

a esta hora mais coisa menos coisa
estarás a jantar em Heimlicher Straße
a cozinha italiana é o teu calcanhar de aquiles
(e eu só gosto de bruschetta)
é mais que certo: vista para o Weser e café
no fim da noite poesia & currywurst
nas escadas de Böttcherstraße

a esta hora mais coisa menos coisa
espero-te no café ceuta
(o sol de setembro não te traz na nuvem
mais próxima)
há tempos ouvia-te nesta mesa
a falar dos nibelungos
do norte de Niflheim
dos burgundos
das ramphastidæ da América

é domingo e eu imagino-te longe
entre os meus lábios e o copo de café
procurando-te em todas as canções do vh1
resignando-me sempre com um cisco no olho
a esta hora
mais coisa menos coisa


#


Fui a Bruges esquecer um amor
– em resposta ao poema "fui a Lisboa esquecer um amor" –
para o João G. Junior

tu não estás aqui
e tenho beijado todas as garrafas
num bar escondido de Bruges
         sem querer dou por mim
a perder terreno na tua vida
eu que sempre te esperei às 17
na janela desalumiada do metro
entre olaias e chelas

tu não estás aqui
e é tão bom assim: despertar incerto
partir a língua em dois como um hiato
granjear o sol dalgum hemisfério
reaver-me dos engenhos necessários
e supor que tudo se resume, caro watson,
a morte & amor

          tu não estás aqui
em tanto sítio em tanto corpo assediado
no dia em que Freddie morreu.
se em muito te reconhecia,

em pouco te relembro agora

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