Pedro Craveiro é um poeta e pesquisador nascido no Porto, em Portugal,
em 1990.
É licenciado em Estudos Portugueses e Lusófonos e mestre
em Estudos Literários, Culturais e Interartes pela Faculdade de Letras da
Universidade do Porto (FLUP) com a dissertação hoje sem musa apenas meu nome escrito na blusa: a Beat Generation e o
Budismo Zen em Paulo Leminski (2014).
Recentemente, foi admitido no Doutoramento em Línguas e
Literaturas Hispânicas, na Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara (UCSB),
e sua investigação tem se desenvolvido em torno da literatura brasileira e
portuguesa contemporâneas.
Copacabana
dreams
entre nós
um continente
e dois oceanos
de distância
então o amor é isto
cada um por sua conta
e o cheiro a poema velho
#
To die in L.A.
no princípio era o verbo
breathe it in
and breathe it out
todos os distritos em alerta
amarelo
e os teus joelhos eram a minha
casa
esse era o tempo em que o teu
cabelo
fixava o ralo do chuveiro
e eu reclamava a mãe não pode ver cabelos no ralo
no princípio era o medo
de amar-te por inteiro
sem esquecer-te na metade
todas as manhãs esperava-te à
janela
e repetia, como te quero mais
cedo entendi que o medo por
prisão
era a certeza dos nossos flancos
tu sabias como me convencer
e trazias sempre um livro para
dois
quantos poemas te escrevi
uma tarde, recordo-me agora,
perguntaste
se a minha poesia mudaria o mundo
é claro que não
no princípio era a poesia
em cada casaco achava um isqueiro
teu
em cada café o teu sabor
num maço de marlboro os dias mais
ásperos.
#
Heartquake
a esta hora mais coisa menos
coisa
estarás a jantar em Heimlicher
Straße
a cozinha italiana é o teu
calcanhar de aquiles
(e eu só gosto de bruschetta)
é mais que certo: vista para o
Weser e café
no fim da noite poesia &
currywurst
nas escadas de Böttcherstraße
a esta hora mais coisa menos
coisa
espero-te no café ceuta
(o sol de setembro não te traz na
nuvem
mais próxima)
há tempos ouvia-te nesta mesa
a falar dos nibelungos
do norte de Niflheim
dos burgundos
das ramphastidæ da América
é domingo e eu imagino-te longe
entre os meus lábios e o copo de
café
procurando-te em todas as canções
do vh1
resignando-me sempre com um cisco
no olho
a esta hora
mais coisa menos coisa
#
Fui
a Bruges esquecer um amor
– em resposta ao poema "fui a
Lisboa esquecer um amor" –
para o João G. Junior
tu não estás aqui
e tenho beijado todas as garrafas
num bar escondido de Bruges
sem querer dou por mim
a perder terreno na tua vida
eu que sempre te esperei às 17
na janela desalumiada do metro
entre olaias e chelas
tu não estás aqui
e é tão bom assim: despertar
incerto
partir a língua em dois como um
hiato
granjear o sol dalgum hemisfério
reaver-me dos engenhos
necessários
e supor que tudo se resume, caro
watson,
a morte & amor
tu não estás aqui
em tanto sítio em tanto corpo
assediado
no dia em que Freddie morreu.
se em muito te reconhecia,
em
pouco te relembro agora
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