sábado, 24 de dezembro de 2016

Dimitri BR

Dimitri BR (Dimitri Rebello) é um poeta, compositor e performer nascido em 1976 no Rio de Janeiro.
Suas canções e vídeocanções estão disponíveis para o público no site diahum.com – e alguns desses seus trabalhos figuram, inclusive, em trilhas sonoras de novelas, filmes e peças teatrais.
Em 2011 lançou o álbum Música Sólida, além de compactos e EPs.
Publicou poemas e contos em revistas e coletâneas, tanto impressas quanto online, e em 2015 publicou a plaquete Breviário da sagrada dúvida, na coleção Megamíni da editora carioca 7Letras, a mesma por onde, neste ano, lançou seu primeiro livro, o Ocupa, com orelha assinada pela também poeta Angélica Freitas. No Facebook você pode conferir a página no livro, nesta página aqui.
Abaixo, dois poemas inéditos do autor, e dois retirados do seu livro.



 Foto de Suzane Queiroz

  
Mote do sem-teto


qualquer casa é maior que a minha
eu não tenho casa

qualquer casa é menor que a minha casa
que é o mundo



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Praça XV dia XVIII


foi lindo gente
de todo tipo
no fundo é nisso
que eu acredito
no amor na graça
na rua na praça
afeto e gente
de todo tipo



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Corpo de verão


caraca que gata
essa mulher no metrô
essa mulher na rua
essa mulher no espelho
no meu espelho do banheiro
essa mulher com meus
pentelhos e um nariz
igual ao meu, de quem é
essa calcinha? e essa cueca
é sua, ou minha?
vamos trocar? ah, meu bem
vamos mais é tirar tudo
que hoje está muito calor



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Muito prazer

como você se chama?
muito prazer meu nome é
muito meu
meu nome é prazer
é chama
que arde sem se ver
pra mim
o nome do meu nome
é eu
pra você é você
já você se chama eu
e eu chamo você
pra minha casa
onde moro com meu nome
e três gatos vira-latas
todos chamados gato
ou gata
ou ainda Clóvis Doulgas Yuri Barbaritóv Emilianenko III
mas pode chamar de miau
que ele vem
este poema também era outro
embora tivesse o mesmo nome
nada mais eles têm em comum
só eu, você e os gatos
e os nomes próprios ou não
das coisas e das pessoas
e as cores e coisas que os nomes
nos permitem enxergar
só não vê quem não quer meu bem
a gente veio pra ficar

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Três poemas inéditos de Fernanda Vivacqua

Fernanda Vivacqua é uma poeta nascida no Rio de Janeiro, em 1992, mas cresceu em Juiz de Fora/MG, onde vive até hoje. Conclui esse ano a graduação em Letras, na Universidade Federal de Juiz de Fora. Teve seu primeiro poema publicado na revista OGaribaldi e estreia em livro com Maria Célia. Participa do corpo editorial das Edições Macondo.


“Muitas mulheres atravessam o livro de estreia de Fernanda Vivacqua, Maria Célia. Não é surpresa que mais uma voz feminina surja neste cenário e que, apesar do caráter de estreia, traga a consistência de um projeto poético que parece ter sido construído com muito cuidado. Fernanda possui aquela rara capacidade de hipnose com a voz que é tão importante para os poetas cantores que sobrevivem os séculos.
Uma entre as várias, a personagem que dá título ao livro pode ser o retrato da avó como a memória soube carregar, ou um reflexo dessa mesma avó que ainda vive, estático, no espelho. O que importa mesmo, no poema ou neste livro, é como o nome fica marcado na memória e no espelho. Fernanda Vivacqua tende a escrever a memória como quem manipula um filme fotográfico. Presa no quadro a imagem parece reter toda a violência do indomável. Não é a memória, é uma fotografia. Isto, antes de tudo, é um livro, não é a memória. Maria Célia é um acerto porque não se propõe a ser um álbum de memórias, mas se impõe como uma coleção de presenças. Cabe à estética pensar melhor a recepção e a nós leitores encontrar o livro não como uma seleta de retratos da autora. A memória é o que vem depois do poema e este é apenas o primeiro plano do filme." (excertos da resenha de Otávio Campos para a OGaribaldi #07)
 Abaixo, três poemas inéditos de Fernanda retirados de seu livro, Maria Célia.




era 1997

uma enchente nos escorreu

pelos dedos entrelaçados

da lama daquele ano

daquele ano do silêncio

dos vidros em estilhaços e das manhãs

as manhãs de 97

se você ainda pudesse ouvir

o que gritam aquelas manhãs

a água subia as escadas

nós em ciranda

dedos entrelaçados escravos de jó

em 1997

a água avançava

mas o nosso silêncio

ensurdecedor

o nosso silêncio era maior

que a água que 97

você com os dedos

ora frouxos, ora presos

e eu com minhas unhas curtas

a querer fincar na pele

o que você não sente o que

não te bate

com a água no joelho

nossos pés dançaram submersos

acima da escada brincamos de deuses

eu Iemanjá, ainda sem saber

era 1997 não 79

quando você ainda não poderia saber

que triste deus seria

das enchentes e dos silêncios

dos estilhaços e das lamas

daquilo tudo que a água leva

em seu balanço

que vai e vem

sobe escadas lava tudo

lava um ano

sem nada conservar



eu não te encontrei no mar

você é da casa

e eu te deixei lá



você se lembra?



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em paris tem umas feiras que vendem
de tudo um pouco
xícaras com asas quebradas
garfos sem dentes
e sapatos sem par
acho que os turistas gostam porque é
francês e isso já parece bastar
aos turistas que vão às feiras
as feiras que vendem de tudo em paris
e vendem fotos
fotos de pessoas que não conhecemos
e nem vamos fotos de
lugares que podem ser
na frança ou no brasil
ou em moçambique ou em angola
sim eu gostaria que fosse lusófono
essas fotos desses lugares
podem ter pessoas, como quatro
moças sentadas em um jardim em preto
e branco
ou essas fotos podem só ter lugares
como um santuário, agora apenas aberto
para visitação
um quarto com uma cama de solteiro
uma cadeira marrom de madeira em branco
e preto
poderia ser o quarto do van gogh
mas aí a foto da feira
valeria milhões, então ela é apenas
uma foto de um quarto com uma cadeira
onde você poderia estar no tempo em que
as fotos em preto e branco eram apenas
fotos
e você poderia odiar aquele lugar
e eu espero que você seja lusófono
para poder sentir saudades de um outro lugar
que você viu em um quadro, ou mesmo em uma
foto na casa de um amigo
casa não fotografada esquecida
e então se um dia eu for à frança
e forauma feira em paris
dessas que vendem de tudo e então
a gente poderia se encontrar e torcer
eu não falo francês.




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agora do lado de fora além
da janela da cozinha eles
tateiam o chão de seda enquanto
aqui pisamos seguimos
pisando em tesouras abertas
tesouras abertas em chão de vidro
no de seda eles de fora da janela
tateiam o branco transparente
e eu não sei a cor
mas nossos pés sobre
tesouras abertas no chão
de vidro marcham ou marchariam
se soubessem enquanto pisam
mas eles tateiam de olhos
bem abertos enquanto nós
aproveitamos o passeio
o passeio sobre tesouras abertas

um dia me disse o
meu amigo sobre as coisas
prosaicas e uma nova palavra
eu queria passar
um café enquanto meus dedos
apontavam para a janela e eu
o meu amigo e a nova
palavra esperávamos o café
enquanto isso os dedos
daqueles que tateiam eram
como fios em novelo
e nossos pés ainda hoje
sangram debaixo da mesa

O último baile do ano



            Este, definitivamente, não foi um ano fácil, mas a poesia continuou circulando pelas ruas de Juiz de Fora, em Minas Gerais, através do trabalho dos editores Otávio Campos, Fernanda Vivacqua e Anelise Freitas que, juntos, constroem o projeto editorial Edições Macondo, editora que possui a premissa de publicar livros poéticos e afetivos. E para fechar esse ano repleto de “ai, Jesus”, os editores organizam “O último baile do ano”, que promete lançar os trabalhos das editoras Fernanda Vivacqua, com seu primeiro livro de poemas, intitulado Maria Célia e prefaciado pela também poeta Prisca Agustoni, e Anelise Freitas, que apresenta seu box especial com todos os livros que compõem a sua obra poética e, até então, esgotados.
Além disso, a tarde contará com o lançamento do sétimo número da “OGaribaldi – Revista de Poesia” e a leitura dos poetas Anderson Pires da Silva, André Capilé, Anelise Freitas, Fernanda Vivacqua,Laura Assis, Otávio Campos e Prisca Agustoni. As Edições Macondo convidam para a festa de lançamentos, que acontece no dia 17 de dezembro, às 16h30, na BartlebeePães e Livros (Rua Antônio Altaf, 460. Cascatinha – Juiz de Fora, MG).


SOBRE OS LIVROS


Maria Célia, de Fernanda Vivacqua


Muitas mulheres atravessam o livro de estreia de Fernanda Vivacqua, Maria Célia. Não é surpresa que mais uma voz feminina surja nesse cenário já marcado por nomes como Anelise Freitas, Laura Assis e Prisca Agustoni, muito menos que este trabalho, apesar do caráter de estreia, traga a consistência de um projeto poético que parece ter sido construído com muito cuidado. Fernanda Vivacqua já frequenta os saraus da cidade há algum tempo e possui aquela rara capacidade de hipnose com a voz que é tão importante para os poetas cantores que sobrevivem os séculos. Já era a hora de conhecermos, portanto, as partituras.
Uma entre as várias, a personagem que dá título ao livro pode ser o retrato da avó como a memória soube carregar, ou um reflexo dessa mesma avó que ainda vive, estático, no espelho. Os círculos que se traçam em torno da imagem a ser trabalhada chegam no poema pelas repetições do nome, da avó, do nome avó, que pouco importa se é a minha, a sua ou a da poeta, mas deve retornar entre um verso e outro para que viva: “ainda assim / eu preciso falar sobre minha / avó / que carregava no nome / a inflexão do ar poluído”. Segundo Prisca Agustoni, o livro de estreia de Fernanda Vivacqua é, ao mesmo tempo, denso e fascinante, enquanto “se abre com as coordenadas desse mundo em gestação, um mundo particular atravessado, o dela, pela presença da natureza e do silêncio”.O que importa mesmo, no poema ou neste livro, é como o nome fica marcado na memória e no espelho: neste último, de batom, que tendo a acreditar que é vermelho: “quando preciso falar sobre a / minha avó e seu nome / escrevo no espelho de batom / para não me esquecer / Maria Célia”.A memória, sobretudo a do corpo, é o que liga os poemas desse livro. Maria Célia Fernanda Vivacqua tende a escrever a memória como quem manipula um filme fotográfico.

Presa no quadro a imagem parece reter toda a violência do indomável. Não é a memória, é uma fotografia. Isto, antes de tudo, é um livro, não é a memória. Maria Célia é um acerto porque não se propõe a ser um álbum de memórias, mas se impõe como uma coleção de presenças. Cabe à estética pensar melhor a recepção e a nós leitores encontrar o livro não como uma seleta de retratos da autora. A memória é o que vem depois do poema e este é apenas o primeiro plano do filme.

(excertos da resenha de Otávio Campos para a OGaribaldi #07)


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Obra reunida (2011 – 2015), de Anelise Freitas



            O box, com os três livros já publicados pela poeta Anelise Freitas entre os anos de 2011 e 2015, é uma edição especial feita pelas Edições Macondo. A reunião conta com o primeiro livro da poeta, lançado em 2011, pela Aquela Editora. Naquele dezembro, há cinco anos, o Vaca contemplativa em terreno baldio nascia como um prospecto poético, que convergia um corpo feminino sagrado e a linguagem, ou a busca por ela.
            Em 2013, em uma tentativa de trabalhar não só a linguagem, mas a feitura do objeto estético como um todo, a poeta edita o livro artesanal O tal setembro. A partir da proposta de recriar os dias do mês de setembro de 2012, a poeta buscou uma poética astrológica, isto é, que respondesse no Universo as questões da própria linguagem. Assim, de uma conversa com uma amiga astróloga, a poeta pensa o projeto que se baseia na memória.
            Além desses dois títulos, compõem a tríade o livro Pode ser que morra na volta, que foi, originalmente, publicado pelas Edições Macondo em 2015, na primeira coleção da editora, os “Cadernos de Ausência”. Pensado e apresentado como um Mamafesto, a poeta encerra um projeto poético, que já havia perpassado o corpo e a memória, mas nessa plaquete se deu como um pensamento da linguagem como um híbrido que em si (e por si) culmina em metalinguagem, isto é, a metalinguagem é a linguagem. Nesse livro, o corpo e a memória se misturam às línguas. 




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           SOBRE AS AUTORAS


Fernanda Vivacqua nasceu no Rio de Janeiro/RJ (1992), mas cresceu em Juiz de Fora/MG, onde vive até hoje. Conclui esse ano a graduação em Letras, na Universidade Federal de Juiz de Fora. Teve seu primeiro poema publicado na revista OGaribaldi e estreia em livro com Maria Célia. Participa do corpo editorial das Edições Macondo.





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Anelise Freitas nasceu em Lima Duarte/MG, aos pés da Serra do Ibitipoca, mas vive em 
Juiz de Fora desde 2007. Graduada em Comunicação, finaliza a licenciatura e mestrado em 
Letras na UFJF, com ênfase em Estudos Literários. Publicou os livros de poemas Vaca 
contemplativa em terreno baldio (Aquela Editora, 2011), O tal setembro 
(Edição da Autora/Os 4 Mambembes, 2013) e Pode ser que eu morra na volta (Edições 
Macondo, 2015). Já publicou poemas na Revista Garupa, Enfermaria 6, Mallarmargens, 
Avenida Sul, jornal Plástico Bolha, Um Conto, entre outras. A partir de 2011 ingressou 
na produção editorial, quando passou a integrar o grupo de poetas Eco Performances Poéticas. 
Desde então, organiza eventos, produz material e conteúdo relacionado à literatura e cunhou 
oficinas de criação. Em 2016, participou como poeta, tradutora e editora convidada do 
VI Festival de Poesía Latinoamericana de Bahía Blanca (Argentina) e integrou a 
"Tropa Voluntaria: antologíadel VI Festival de Poesía Latinoamericana 
de Bahía Blanca" (Bahía Blanca: Vox/Lux, 2016).





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          SOBRE A EDITORA

            A Edições Macondo surgiu como uma fábrica de plaquetes, em 2014. Atualmente, dedica-se a publicar pequenas tiragens de livros ainda não conhecidos. Cada livro é finalizado manualmente, tornando-o uma peça exclusiva, cuidada e pensada coletivamente, de modo a incitar novas geografias afetivas, políticas e poéticas. Já publicou mais de uma dezena de livros inéditos, de poetas do Brasil e da Argentina. 

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Fernanda Tatagiba

Fernanda Tatagiba é uma poeta nascida em 1984 no Espírito Santo, morando atualmente em Paquetá, Rio de Janeiro, onde organiza o Sarau das Marés.
A poeta lançou em 2011 o livro À Sombra das Coisas Turvas e organiza o seu segundo, Labirinto Mínimo.
Edita publicações artesanais no seu selo Amora, além de desenhar e fazer horta.
Abaixo, uma seleção de alguns poemas seus.




uma fresta na carne
falava de comida enquanto mastigava 
era tarde e noite também
fazia tempo e chovia
não era amor mas se olhavam 
como quem não sabia



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perdemos a casa
dentro do osso

da última unha
foi feita uma fera

trancaram a pele
na casca do céu



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sombra
um tombo contra a luz
poço fora do fundo
desenha no muro
do chão 
seu formato de dança
dorme no alto
dentro das montanhas
sem som
não sobra, nem some
a sombra 
nunca está só



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pedra no sapato
sapato sobre a pedra
pedra em baixo da pedra
dentro da terra
nada prende o peso 
do ar

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Lu Bastos

Luiza Bastos (Lu Bastos) é uma poeta e produtora cultural nascida em 1998 em Madureira, no Rio de Janeiro.
Sua escrita poética, confessional e livre, por vezes adota os contornos da prosa e se aproxima muito do tipo de narrativa que se faz de maneira espontânea, seguindo o fluxo de consciência.
A Lu tem como referência as suas vivências na Baixada Fluminense, bem como boa parte dos e das poetas que a compõem. Ela afirma que encontrou na poesia uma forma de respirar e sobreviver ao mundo, e diz que os poemas fazem parte do seu dia a dia e costuram suas fases de vida, ora boas, ora ruins, porém sempre líricas.




Eu não gosto de Ana Carolina

suja de pétalas
das flores que deu pra outra
e de nojo da tua orelha
onde ela consegue alcançar
com resquícios
de traição e paixão
me arranco da tua pele
e de teus escritos
te condenando a dor
de não me ter eternizada
no papel,
somente no beijo confortável
que só eu posso te dar
sendo assim, me recolho
espero o sino marcar
19h em ponto
e morro dentro de ti
pois o que ta vivo
grita
ama
e
morre
essa é a minha lei:
vivo viva porque
morro sempre que possível
e, há vidas atrás, voltava por você
hoje volto pela outra
a qual você manchou nossa cama
com o sangue e suor
do teu ato falho e sem pudor
dessa vez, por infelicidade
não encontrei moedas pelo chão
mas sim aquele vestido
azul clichê que te dei
pra eu te despir
doeu
mas tomo um café
fumo todo teu cigarro
te escrevo por 13h seguidas
enlouqueço
e me faço uma tela
onde deixo sangrar em mim
um lindo quadro abstrato;
me faço perfume
cocaína
e enfim
poesia.



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Resposta ao poema "Carta" do poeta Guarnier

Hoje é um bom dia pra escrever uma carta. 
Li no jornal que uma tempestade se aproxima da tua casa. Sugiro que conte os passos até aqui e espere a chuva passar. Reconte. São só sete passos - um para cada dia -, três cigarros, um cheiro e o beijo eterno que marca o fim da noite. 
Eu tiro tua roupa do meio do caminho, garanto que tiro. Em seguida tiro a roupa que atrapalha teu caminho até mim.
Espero que o tempo demore a passar. 
Você cozinha, eu arrumo o lençol.
Você se queima, eu fecho as janelas.
Você se serve, eu tiro a mesa.
Depois disso o tempo correu. Voou. Mas medi o tempo certo pro teu suor se contentar com o meu. Foi tudo feito em tempo. E agora já não há mais tempo pra contar, medir ou cronometrar. 
Hoje está um lindo dia pra ser domingo, eu olhei no Astros. Li a combinação dos nossos signos e nenhuma parte nos interessa mas tudo que li é lindo. 
Descobri que sua Vênus é em Marte e por isso tua fé é só no amor. Mas Deus perdoa, esteja certa disso. 
Porque hoje está um dia lindo pra fazer poesia e deixar a solidão de lado, mastigada pelos novos tempos de euforia, jogada na calçada mais próxima e condenada a ser só solidão. 
É baby, hoje está um lindo dia pra fazer poesia. Prometo que está. 
E se puder, venha só com o amor. Dou a cara a tapa. Me bata! Eu não vou me defender, você sabe que não. Do amor eu apanho.



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O texto de amor que eu teria enviado se na verdade não fosse um texto de morte após a morte 

​existem sequências de palavras que tiram o ar e desmontam o peito
e algumas que roubam as palavras das bocas das outras pessoas e elas não sabem o que dizer.
e ainda existem as palavras que nem existem mas que se você olhar dentro de você, as encontra em forma de sentimentos que você nunca conseguiu entender, só sentir. 
essas são as palavras que eu gostaria de te escrever nessa segunda feira, essas palavras que não são formadas através de letras e sim por cada beijo lento que você me dá quando decide arrancar minha alma, por cada “eu te amo” que você fala como quem come lasanha de quatro queijos e quer outra. eu quero lhe escrever as palavras que você escreve em mim toda vez que fica nua e encaixa teu peito no meu. 
eu não sei porque eu ajo como se você fosse só uma brisa passageira se eu sei que você é um mar inteiro, forte, revolto, que vira e mexe vem acompanhado por um vento quase tão frio quanto as noites são sem você do lado.
eu não sei de mais nada além da dor que eu sinto por sentir por você tudo que eu sinto, da forma que eu sinto, com a força que eu sinto, mas eu desisti de lutar contra isso. você é a minha palavra preferida, meu poema mal escrito, meu tom de pele preferido, minha marca no pescoço mais duradora, meu perfume mais lembrado, meus dias com as noites mais longas, você é a meta à ser atingida, a noite de sexo mais gostosa, o medo mais incrível de sentir. você é o meu dia 25, meu dia 29, meu dia 26, e em julho você é o mês inteiro.
correr disso é muito mais difícil do que resolver arriscar, do que tirar toda a minha roupa e todas as malhas que me cobrem a alma porque eu não consegui deixar de me fazer de perfume, mesmo que o seu cheiro preferido seja outro. a essência do perfume que eu sou hoje é o teu sorriso que é a única parte sua que eu consegui memorizar até agora e ele fica mais lindo ainda nas minhas lembranças borradas pelas lágrimas que me escorrem agora.
eu não sei o que você fez comigo ou o que desejava fazer. eu nem sei se você tem consciência da história que a gente tem (ou da que parece existir só na minha cabeça), mas eu preciso entender tudo isso, preciso me sentir segura pra dizer que existe um amor que é nosso e não só meu. preciso alguém que decida de uma vez por todas viver comigo do jeito certo que se vive com alguém porque eu cansei de não saber mais pra onde ir com você, cansei de pisar num chão de giz de cera. eu quero riscar estrelas no chão e te passear no céu porque você ainda é meu pedido pra toda estrela cadente nesse céu cruel da baixada fluminense.
eu queria memorizar tudo isso que estou escrevendo agora pra te dizer com a minha voz e queria que passássemos esta segunda-feira da forma que planejei mentalmente e queria você aqui do meu lado, depois de um dia de trabalho e queria demais te servir o jantar que demorei horas pra decidir qual seria porque eu só conseguia pensar em te dar logo a sobremesa que você não come já faz um tempo e eu sinto muito por isso. mas eu não tive força nos últimos dias, não tive a menor condição de levantar meu corpo e sentir de verdade a ventania do último mês porque a bagunça da vida já me deixa louca o suficiente. e o buquê que eu planejei comprar é mais caro do que eu pensei. e tá doendo mais do que eu penso que posso aguentar sóbria, então deixo que as palavras me ajudem e tô aqui te escrevendo.
escrevo pra que saiba que todos os nossos beijos no último ano foram os meus preferidos, que dormir sem você é horrível e que se dependesse de mim eu dormia contigo todo dia. não sei mesmo a data do teu aniversário mas sei a do nosso primeiro beijo mas gravaria uma e esqueceria a outra se você quisesse. 
eu quero a última chance e mais nenhuma. quero fazer dar certo. não aguento mais tentar te esquecer de mês em mês. quero me comunicar com você, quero você, a gente.
eu tô morrendo de saudade.
e sim, saudade mata sim, bem devagar e cada pouco que ela cresce, parece que mata novamente.
me perdoa por todo silêncio e ausência até agora. por todo grito contido e toda amostra grátis da minha maneira errada de mostrar que amo. me perdoa por sempre duvidar e por esse medo cítrico de confiar, de acreditar, de baixar a guarda e me entregar de verdade. me perdoa por todo passo torto até aqui.
desejo de corpo e alma que ainda me queira e que a porta ainda esteja aberta.

se olhar nos meus olhos vai ver que ainda não acabou e espero que nos seus também não tenha acabado.