quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

O último baile do ano



            Este, definitivamente, não foi um ano fácil, mas a poesia continuou circulando pelas ruas de Juiz de Fora, em Minas Gerais, através do trabalho dos editores Otávio Campos, Fernanda Vivacqua e Anelise Freitas que, juntos, constroem o projeto editorial Edições Macondo, editora que possui a premissa de publicar livros poéticos e afetivos. E para fechar esse ano repleto de “ai, Jesus”, os editores organizam “O último baile do ano”, que promete lançar os trabalhos das editoras Fernanda Vivacqua, com seu primeiro livro de poemas, intitulado Maria Célia e prefaciado pela também poeta Prisca Agustoni, e Anelise Freitas, que apresenta seu box especial com todos os livros que compõem a sua obra poética e, até então, esgotados.
Além disso, a tarde contará com o lançamento do sétimo número da “OGaribaldi – Revista de Poesia” e a leitura dos poetas Anderson Pires da Silva, André Capilé, Anelise Freitas, Fernanda Vivacqua,Laura Assis, Otávio Campos e Prisca Agustoni. As Edições Macondo convidam para a festa de lançamentos, que acontece no dia 17 de dezembro, às 16h30, na BartlebeePães e Livros (Rua Antônio Altaf, 460. Cascatinha – Juiz de Fora, MG).


SOBRE OS LIVROS


Maria Célia, de Fernanda Vivacqua


Muitas mulheres atravessam o livro de estreia de Fernanda Vivacqua, Maria Célia. Não é surpresa que mais uma voz feminina surja nesse cenário já marcado por nomes como Anelise Freitas, Laura Assis e Prisca Agustoni, muito menos que este trabalho, apesar do caráter de estreia, traga a consistência de um projeto poético que parece ter sido construído com muito cuidado. Fernanda Vivacqua já frequenta os saraus da cidade há algum tempo e possui aquela rara capacidade de hipnose com a voz que é tão importante para os poetas cantores que sobrevivem os séculos. Já era a hora de conhecermos, portanto, as partituras.
Uma entre as várias, a personagem que dá título ao livro pode ser o retrato da avó como a memória soube carregar, ou um reflexo dessa mesma avó que ainda vive, estático, no espelho. Os círculos que se traçam em torno da imagem a ser trabalhada chegam no poema pelas repetições do nome, da avó, do nome avó, que pouco importa se é a minha, a sua ou a da poeta, mas deve retornar entre um verso e outro para que viva: “ainda assim / eu preciso falar sobre minha / avó / que carregava no nome / a inflexão do ar poluído”. Segundo Prisca Agustoni, o livro de estreia de Fernanda Vivacqua é, ao mesmo tempo, denso e fascinante, enquanto “se abre com as coordenadas desse mundo em gestação, um mundo particular atravessado, o dela, pela presença da natureza e do silêncio”.O que importa mesmo, no poema ou neste livro, é como o nome fica marcado na memória e no espelho: neste último, de batom, que tendo a acreditar que é vermelho: “quando preciso falar sobre a / minha avó e seu nome / escrevo no espelho de batom / para não me esquecer / Maria Célia”.A memória, sobretudo a do corpo, é o que liga os poemas desse livro. Maria Célia Fernanda Vivacqua tende a escrever a memória como quem manipula um filme fotográfico.

Presa no quadro a imagem parece reter toda a violência do indomável. Não é a memória, é uma fotografia. Isto, antes de tudo, é um livro, não é a memória. Maria Célia é um acerto porque não se propõe a ser um álbum de memórias, mas se impõe como uma coleção de presenças. Cabe à estética pensar melhor a recepção e a nós leitores encontrar o livro não como uma seleta de retratos da autora. A memória é o que vem depois do poema e este é apenas o primeiro plano do filme.

(excertos da resenha de Otávio Campos para a OGaribaldi #07)


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Obra reunida (2011 – 2015), de Anelise Freitas



            O box, com os três livros já publicados pela poeta Anelise Freitas entre os anos de 2011 e 2015, é uma edição especial feita pelas Edições Macondo. A reunião conta com o primeiro livro da poeta, lançado em 2011, pela Aquela Editora. Naquele dezembro, há cinco anos, o Vaca contemplativa em terreno baldio nascia como um prospecto poético, que convergia um corpo feminino sagrado e a linguagem, ou a busca por ela.
            Em 2013, em uma tentativa de trabalhar não só a linguagem, mas a feitura do objeto estético como um todo, a poeta edita o livro artesanal O tal setembro. A partir da proposta de recriar os dias do mês de setembro de 2012, a poeta buscou uma poética astrológica, isto é, que respondesse no Universo as questões da própria linguagem. Assim, de uma conversa com uma amiga astróloga, a poeta pensa o projeto que se baseia na memória.
            Além desses dois títulos, compõem a tríade o livro Pode ser que morra na volta, que foi, originalmente, publicado pelas Edições Macondo em 2015, na primeira coleção da editora, os “Cadernos de Ausência”. Pensado e apresentado como um Mamafesto, a poeta encerra um projeto poético, que já havia perpassado o corpo e a memória, mas nessa plaquete se deu como um pensamento da linguagem como um híbrido que em si (e por si) culmina em metalinguagem, isto é, a metalinguagem é a linguagem. Nesse livro, o corpo e a memória se misturam às línguas. 




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           SOBRE AS AUTORAS


Fernanda Vivacqua nasceu no Rio de Janeiro/RJ (1992), mas cresceu em Juiz de Fora/MG, onde vive até hoje. Conclui esse ano a graduação em Letras, na Universidade Federal de Juiz de Fora. Teve seu primeiro poema publicado na revista OGaribaldi e estreia em livro com Maria Célia. Participa do corpo editorial das Edições Macondo.





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Anelise Freitas nasceu em Lima Duarte/MG, aos pés da Serra do Ibitipoca, mas vive em 
Juiz de Fora desde 2007. Graduada em Comunicação, finaliza a licenciatura e mestrado em 
Letras na UFJF, com ênfase em Estudos Literários. Publicou os livros de poemas Vaca 
contemplativa em terreno baldio (Aquela Editora, 2011), O tal setembro 
(Edição da Autora/Os 4 Mambembes, 2013) e Pode ser que eu morra na volta (Edições 
Macondo, 2015). Já publicou poemas na Revista Garupa, Enfermaria 6, Mallarmargens, 
Avenida Sul, jornal Plástico Bolha, Um Conto, entre outras. A partir de 2011 ingressou 
na produção editorial, quando passou a integrar o grupo de poetas Eco Performances Poéticas. 
Desde então, organiza eventos, produz material e conteúdo relacionado à literatura e cunhou 
oficinas de criação. Em 2016, participou como poeta, tradutora e editora convidada do 
VI Festival de Poesía Latinoamericana de Bahía Blanca (Argentina) e integrou a 
"Tropa Voluntaria: antologíadel VI Festival de Poesía Latinoamericana 
de Bahía Blanca" (Bahía Blanca: Vox/Lux, 2016).





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          SOBRE A EDITORA

            A Edições Macondo surgiu como uma fábrica de plaquetes, em 2014. Atualmente, dedica-se a publicar pequenas tiragens de livros ainda não conhecidos. Cada livro é finalizado manualmente, tornando-o uma peça exclusiva, cuidada e pensada coletivamente, de modo a incitar novas geografias afetivas, políticas e poéticas. Já publicou mais de uma dezena de livros inéditos, de poetas do Brasil e da Argentina. 

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