Anelise Freitas é
uma poeta e editora nascida em Lima Duarte, Minas Gerais, em 1987. É graduada
em Comunicação e atualmente cursa Letras e o mestrado em Estudos Literários na
UFJF.
Publicou os livros de poesia Vaca
contemplativa em terreno baldio (Aquela Editora, 2011), O tal setembro (Os 4
mambembes, 2013) e Pode ser
que eu morra na volta (Edições
Macondo, 2015).
É umas das organizadoras do sarau Eco Performances Poéticas, editora da
revista de poesia O Garibaldi e colaboradora de produção editorial nas Edições Macondo.
Diz que não escreve livros, mas inscreve projetos
de vida.
Os poemas a seguir são inéditos e fazem parte de Sozé, livro ainda sem data de
lançamento.
Canto XV
a)
o ataque ao estado
“os
filmes não são lentos,
os
filmes impõe uma temporalidade”
,
dizia
no
jogo de resistência
-
rolando –
é
preciso aprender
a
parar
b)
o ataque à família
tem
livros que te pedem para ir
de
va
gar
a
obra de arte lhe impõe um tempo
c)
o ataque à religião
tudo
opera
numa
temporalidade
“a
vida necessita de pausas”
#
Canto XXX (ou
conto sobre a medusa protegida por são brás)
criamos
cobras em cativeiro
a
da cabeça azul, outra
vermelha
e o charuteiro maluco
aquário
diferente escolha
criamos
cobras em cativeiro
para
impedir que elas nos piquem
com
os dentes venenosos
que
nós mesmos imaginamos
criamos
cobras em cativeiro
para
garantir que quando lhes pisemos nas cabeças
o
passo do pé seja certeiro
embora
o corpo finja-se completo
pisamos
nas cabeças das cobras em cativeiro
para
assegurar o fim de seu veneno
e
evitar que rastejem até nossos pés
pisamos
em suas cabeças
as
cobras em cativeiro têm cabeça dura
mas
nossos pés são fortes
e
depois de pisar ou sapatear sobre suas cabeças
vemos
o veneno escorrer
criamos
cobras em cativeiro
obedecendo
a lei do mais fraco
mas,
de pé, vemos aquela cabeça
e
pisamos
criamos
cobras em cativeiro
porque
sabemos que elas rastejam
e
ao mínimo descuido pisamos em suas cabeças
que
escorre veneno sem efeito
criamos
cobras em cativeiro
porque
elas rastejam pelo chão e
seu
veneno não atinge nossas veias
porque
pisamos em suas cabeças
criamos
cobras em cativeiro
porque
somos medusas
não
rastejamos pelo chão
e
ninguém pisa em nossas cabeças
criamos
cobras em cativeiro
serpentes
verdadeiras e o paraíso
ou
a anomalia e o meu
pescoço
e a cabeça que não cai
criamos
cobras e pisamos
em
suas cabeças porque
criamos
cobras e elas nos picam
e
pisamos em suas cabeças
criamos
cobras em cativeiro
e
seu corpo é rabo e de pé
e
sua cabeça na altura de nossos olhos
e
as mãos apertam suas cabeças
enquanto
seu sangue e veneno não significam nada
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