quarta-feira, 22 de junho de 2016

Anelise Freitas

Anelise Freitas é uma poeta e editora nascida em Lima Duarte, Minas Gerais, em 1987. É graduada em Comunicação e atualmente cursa Letras e o mestrado em Estudos Literários na UFJF.
Publicou os livros de poesia Vaca contemplativa em terreno baldio (Aquela Editora, 2011), O tal setembro (Os 4 mambembes, 2013) e Pode ser que eu morra na volta (Edições Macondo, 2015).
É umas das organizadoras do sarau Eco Performances Poéticas, editora da revista de poesia O Garibaldi e colaboradora de produção editorial nas Edições Macondo.
Diz que não escreve livros, mas inscreve projetos de vida.
Os poemas a seguir são inéditos e fazem parte de Sozé, livro ainda sem data de lançamento.



Canto XV

a) o ataque ao estado

“os filmes não são lentos,
os filmes impõe uma temporalidade”
, dizia

no jogo de resistência
- rolando –
é preciso aprender
a parar

b) o ataque à família

tem livros que te pedem para ir
de
va
gar

a obra de arte lhe impõe um tempo

c) o ataque à religião

tudo opera
numa temporalidade

“a vida necessita de pausas”


#



Canto XXX (ou conto sobre a medusa protegida por são brás)

criamos cobras em cativeiro
a da cabeça azul, outra
vermelha e o charuteiro maluco
aquário diferente escolha

criamos cobras em cativeiro
para impedir que elas nos piquem
com os dentes venenosos
que nós mesmos imaginamos

criamos cobras em cativeiro
para garantir que quando lhes pisemos nas cabeças
o passo do pé seja certeiro
embora o corpo finja-se completo

pisamos nas cabeças das cobras em cativeiro
para assegurar o fim de seu veneno
e evitar que rastejem até nossos pés
pisamos em suas cabeças

as cobras em cativeiro têm cabeça dura
mas nossos pés são fortes
e depois de pisar ou sapatear sobre suas cabeças
vemos o veneno escorrer

criamos cobras em cativeiro
obedecendo a lei do mais fraco
mas, de pé, vemos aquela cabeça
e pisamos

criamos cobras em cativeiro
porque sabemos que elas rastejam
e ao mínimo descuido pisamos em suas cabeças
que escorre veneno sem efeito

criamos cobras em cativeiro
porque elas rastejam pelo chão e
seu veneno não atinge nossas veias
porque pisamos em suas cabeças

criamos cobras em cativeiro
porque somos medusas
não rastejamos pelo chão
e ninguém pisa em nossas cabeças

criamos cobras em cativeiro
serpentes verdadeiras e o paraíso
ou a anomalia e o meu
pescoço e a cabeça que não cai

criamos cobras e pisamos
em suas cabeças porque
criamos cobras e elas nos picam
e pisamos em suas cabeças

criamos cobras em cativeiro
e seu corpo é rabo e de pé
e sua cabeça na altura de nossos olhos
e as mãos apertam suas cabeças

enquanto seu sangue e veneno não significam nada


Nenhum comentário:

Postar um comentário