terça-feira, 2 de maio de 2017

Três poemas de Rodrigo Santos

Rodrigo Santos nasceu em São Gonçalo, Rio de Janeiro, em 1976. 
É escritor, poeta, professor, corredor de rua e zagueiro do Pindorama F.L., a Seleção Brasileira de Escritores.
Foi um dos criadores e apresentadores do projeto "Uma Noite na Taverna", um famoso sarau mensal que se realizou por treze anos em São Gonçalo, voltado à popularização da poesia.
Recentemente, lançou o romance Macumba pela editora Casa da Palavra em parceira com a Flup.
Rodrigo já apareceu em nossa revista com o conto Volta, e hoje chega junto com três poemas.



Lagarta com asas

Tornei-me um dançarino melhor
Depois que você se foi.
Minhas pernas desajeitadas
Acharam algum ritmo,
E seus pés agora não sofreriam tanto.

Aprendi também a diferença
Entre alho socado e picado,
Torta, bolo e quiche,
Café coado na hora e cafeteira,
E já uso até guardanapos.

Hoje entendo o que disse Cecília,
Agora que você está invisível
E meus olhos se prestam ao exercício
De não se fecharem de dor
Enquanto leio poemas.

Não sou mais o mesmo bufão,
Vivendo a favor do vento antrópico,
Aprisionado na ciclotimia do cotidiano.
Paradoxalmente,
Sua ausência me fez mais humano.

Mudei tanto pra te agradar
Que não sei mais quem sou,
E nem quero mais que você volte pra mim.
Quero que conheça este novo eu
E se apaixone.




#




Imemória

A velha loja da esquina
Aquela ali, abandonada...
Cresci indo naquela loja
Comprar balas e revistas.
Pirulito Zorro e Almanaque Disney,
Cascão e suspiro com bolinhas coloridas.
“quanto dá isso aqui de bala?”,
Vales rabiscados de cascos de Baré.

Vi a lojinha perder seus clientes,
Deixar de ostentar,
Atrás do vidro do balcão de madeira,
As guloseimas e bugigangas apreciadas.
Vi Seu Domingos tirar pela última vez
Uma garrafa de Mineirinho
Daquela coisa gigante
- Que devia ser uma geladeira,
De portinholas espelhadas
E maçanetas como de opala.

Soube da morte de Seu Domingos,
Da porta de metal arriada,
E dos filhos que não queriam
Passar a vida com o umbigo no balcão.

Enquanto comprava gibis nas bancas
E começava a tomar gosto
Pelos livros mais grossos da biblioteca da escola,
Não percebi que as portas enferrujaram,
O reboco das colunas descascou,
E um dia, depois de cair uma parede lateral,
A lojinha da esquina foi tomada pela vegetação,
Sem Penadinho ou Biscoito de Polvilho.

Eu cresci
E só agora percebi
Que aquela loja
Também vendia sonhos.




#




Eloquência

Eu deixo marcas.
Talhos na casca da alma
Pra saber exatamente
aonde não voltar.

Eu deixo rastros
Disfarçados de palavras
Nas trilhas da pele
Na espuma rala do mar.

Eu deixo.
E não volto pra buscar...
Eu deixo,
E não volto pra buscar.

Estou emitindo
Sinais de fumaça,
Cores de Newton,
Códigos morse e navajo.

Estou mentindo,
Falando groselha,
Declamando poemas,
Tirando sarro.

Eu falo
Mas sua frequência é outra.
Eu, falo.
Na tua boca.

Um comentário:

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