segunda-feira, 17 de julho de 2017

Poema inédito de Tainá Rei

Tainá Rei é uma artista visual e escritora nascida em 1992 que vive e trabalha no Rio de Janeiro.
Ela já atravessou nossa Avenida, e hoje volta com um poema inédito.


(Foto por Lucas Moratelli)


Querido T.,

Ontem acordei com a dor da fome e fui à cozinha bolar uma gororoba
Tive gases
Peidei um bocado
Ainda bem que você não estava aqui

Querido T.,

Tenho evitado tudo de analógico ou duradouro
Por isso publiquei essa carta
E porque não sei seu endereço

Querido T.,

Terminei um namoro porque não estava feliz
Gostaria de ficar sozinha
Mas eu posso mudar de ideia
Se você mudar de ideia

Querido T.,

Talvez eu esteja super analisando
Mas você poderia detalhar
O que “apenas amigos” quer dizer?

Querido T.,

Só preciso que seus olhos me toquem
Da permissão do seu abraço
E de uns beijos
Prometo não incomodar

Querido T.,

Entre sentimento mudo e
Mútuo
Caí num meio termo embaraçoso

Querido T.,

Forjarei resiliência
Se possível não me dê carinho
Para que isso morra
Antes de mim

Querido T.,

Queria ser
Sua Querida T.

sexta-feira, 7 de julho de 2017

Três poemas inéditos de André Capilé

André Capilé é um poeta e tradutor nascido em 1978 em Barra Mansa, no interior do sul fluminense. Graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Juiz de Fora, Mestre em Estudos Literários e Doutor em Cultura, Literatura e Contemporaneidade pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
Foi co-fundador e organizador do ECO – performances poéticas, um sarau mensal realizado na cidade de Juiz de Fora, em MG.
Atua como colaborador na Editora TextoTerritório em suas diversas frentes de trabalho.
Publicou o livro Dois (Não Pares) (2008, Anome e Funalfa Edições – em parceria com Carolina Barreto); a plaquette ZANGARREIO (2010, edição do autor); rapace (2012, Editora TextoTerritório) e balaio (2014, 7Letras, na coleção megamíni).
Traduziu em 2015, para a Edições Macondo, “The Love Song of J. Alfred Prufrock”, de T. S. Eliot, na coleção Herbert Richers, que recebeu o título “A canção de amor de J. Pinto Sayão”.
Teve poemas publicados na antologia Outra – Poesia reunida no Sarau de Manguinhos (2013, TextoTerritório) e nas revistas Modo de Usar & Co., Escamandro, Um Conto e Germina.
Sua publicação mais recente é o livro Muimbu, lançado este ano (2017) pela Edições Macondo dentro de sua nova coleção Casa de Barro.
Abaixo, três poemas inéditos de sua autoria.



Kahoji
         para Lívia Nepomuceno

o leão
leal em mim

mais que leão

um dia
enfim leoa

espadaúda,

leoa que
não morde juba

avança amarelo

o leopardo
que aliança um golpe

ainda é




#




Jingandu

um poder vagaroso

a barriga & o papo
se borram na lama

não se quer evoluir

o encanto moroso
do beberico de beira

bocarra do rio de barro

mandíbula canto
que pássaro cai, o boi também




#




Kimbiambia

não há pai
por vergar a mão

à grelha que venta
da búfala que espelha

asas fogaréu
a pôr-se em voo