Ana Cristina Cesar, ou Ana Cristina C, ou ainda Ana C.,
foi uma poeta,
jornalista, tradutora e crítica literária nascida no Rio de Janeiro, em 1952, e morta em 1983.
Formou-se em Letras pela PUC–Rio, mestre em Comunicação pela
UFRJ e em Teoria e Prática de Tradução Literária pela Universidade de Essex, na
Inglaterra.
Participou da antologia 26 poetas hoje, lançada em 1976 e organizada por Heloísa Buarque de Hollanda, e foi colaboradora do jornal Opinião. Como poeta publicou os livros Cenas de abril (1979), Correspondência completa (1979), Luvas de pelica (1980), A Teus Pés (1982) e Inéditos e Dispersos (1985), publicado postumamente, assim como Novas Seletas (organizado por seu amigo e também poeta Armando Freitas Filho). Como crítica publicou Literatura não é documento (1980) e Crítica e Tradução (1999).
Participou da antologia 26 poetas hoje, lançada em 1976 e organizada por Heloísa Buarque de Hollanda, e foi colaboradora do jornal Opinião. Como poeta publicou os livros Cenas de abril (1979), Correspondência completa (1979), Luvas de pelica (1980), A Teus Pés (1982) e Inéditos e Dispersos (1985), publicado postumamente, assim como Novas Seletas (organizado por seu amigo e também poeta Armando Freitas Filho). Como crítica publicou Literatura não é documento (1980) e Crítica e Tradução (1999).
Em 2013 a
editora paulista Companhia das Letras lançou a obra Poética, uma antologia com toda a sua poesia; este ano, a mesma
editora publica o volume Crítica e
Tradução, com os textos críticos que Ana Cristina Cesar escreveu ao longo
das décadas de 1970 e 1980, além de uma nova edição do livro A teus pés.
Diz-se que mesmo antes de ser alfabetizada já ditava poemas para que sua mãe os escrevesse.
Diz-se que mesmo antes de ser alfabetizada já ditava poemas para que sua mãe os escrevesse.
Em 1969, Ana C. viajou à Inglaterra em
intercâmbio e passou um período em Londres, onde travou contato com a literatura em língua inglesa. Quando regressou ao Brasil, com livros de Emily Dickinson, Sylvia Plath e Katherine Mansfield nas
malas, dedicou-se a escrever e a traduzir. Seus primeiros livros foram lançados
em edições independentes, e Ana consolidou-se como um dos principais
nomes da Geração Mimeógrafo da
década de 1970. Ainda
hoje tem o seu nome muitas vezes vinculado ao movimento de Poesia Marginal.
Em suas criações, ela transitava entre o ficcional e o
autobiográfico, e criou um estilo verborrágico, refinado e feminista no sentido
de tratar temas deste universo, como o amor e o sexo, do ponto de vista das
mulheres, sem qualquer auto-censura. Mas Ana também falava da solidão, do medo,
e do que há de mais profundo no coração humano.
Por estes motivos, é referência principal de todos, ou pelo
menos da maioria, dos que escrevem poesia no Brasil atualmente – principalmente
as mulheres.
Ana cometeu suicídio
aos trinta e um anos, em 1983, atirando-se pela janela do apartamento dos pais, no sétimo andar de um
edifício da rua Toneleros, em Copacabana.
Armando Freitas Filho foi o seu melhor
amigo, para quem ela deixou a responsabilidade de cuidar postumamente das suas
publicações. O acervo pessoal da autora está sob tutela do Instituto Moreira Salles. A família fez a
doação mediante a promessa de os escritos ficarem no Rio de Janeiro.
Ana é a homenageada da Festa Literária de Paraty, a
Flip, deste ano. Como a festa começa amanhã, postamos hoje alguns poemas de sua
autoria em sua homenagem.
A foto que ilustra esta postagem foi feita por João
Almino em um ensaio com a poeta realizado em Paris, em abril de 1980.
faz três semanas
espero
depois da novela
sem falta
um telefonema
de algum ponto
perdido
do país
#
fisionomia
não é mentira
é outra
a dor que
dói
em mim
é um
projeto
de
passeio
em
círculo
um
malogro
do objeto
em foco
a
intensidade
de luz
de tarde
no jardim
é outra
outra a
dor que dói
#
Eu penso
a face
fraca do poema/ a metade na página
partida
Mas calo
a face dura
flor apagada
no sonho
Eu penso
a dor
visível do poema/ a luz prévia
dividida
Mas calo
a superfície negra
pânico iminente
do nada
#
poesia de 1º de outubro
Meu
coração está batendo pelo teu...
Odeio
este jornal que me separa de ti
Me separa
de ti...
Me
separa...
Gosto da
minha mão quando há um elástico no punho.
Ou mesmo
um barbante branco,
Esfiapado,
Desses
que os padeiros usam para embrulhar
O pão.
Então os
meus dedos ficam longos e repousados
E parecem
não dizer nada
Rindo-me
de dentro de um silêncio que me apraz.
Baixa teu
jornal, homem!
outubro/67
#
este livro
Meu
filho. Não é automatismo. Juro. É jazz do coração. É
prosa que
dá prêmio. Um tea for two total, tilintar de verdade
que você
seduz, charmeur volante, pela pista, a toda. Enfie a
carapuça.
E cante.
Puro
açúcar branco e blue.
#
o homem público nº 1 (antologia)
Tarde
aprendi
bom mesmo
é dar a
alma como lavada.
Não há
razão
para conservar
este
fiapo de noite velha.
Que
significa isso?
Há uma fita
que vai
sendo cortada
deixando
uma sombra
no papel.
Discursos
detonam.
Não sou
eu que estou ali
de roupa
escura
sorrindo
ou fingindo
ouvir.
No
entanto
também escrevi
coisas assim,
para
pessoas que nem sei mais
quem são,
de uma
doçura
venenosa
de tão
funda.
#
Estou
vivendo de hora em hora, com muito temor.
Um dia me
safarei – aos poucos me safarei, começarei um safári.
1.8.83
#
samba-canção
Tantos
poemas que perdi.
Tantos
que ouvi, de graça,
pelo telefone
– taí,
eu fiz
tudo pra você gostar,
fui
mulher vulgar,
meia-bruxa,
meia-fera,
risinho
modernista
arranhando
na garganta,
malandra,
bicha,
bem
viada, vândala,
talvez
maquiavélica,
e um dia
emburrei-me,
vali-me
de mesuras
(era uma
estratégia),
fiz comércio,
avara,
embora um
pouco burra,
porque
inteligente me punha
logo
rubra, ou ao contrário, cara
pálida
que desconhece
o próprio
cor-de-rosa,
e tantas
fiz, talvez
querendo
a glória, a outra
cena à
luz de spots,
talvez
apenas teu carinho,
mas
tantas, tantas fiz...