quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Lucas Bernardes


Lucas Bernardes é um poeta multiartista brasileiro, nascido no Rio de Janeiro em 1996.
Já participou de diversos projetos culturais.
Atualmente, cursa o mestrado em letras e integra coletivos literários.




errata


fiz uma errata da minha própria história
reavaliei cada circunstância
considerei toda a conjuntura
respeitei minhas válidas lembranças
e então, deixei pra trás todo aquele peso
retificando o meu maior erro:
um dia ter decidido carregá-lo




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grito


estou a ponto de nada pontuar
perder os sentidos e já não me incomodar
com métrica e ritmo
desconhecer estruturas
esquecer os questionamentos
delirar
fazer parte do todo sem precisar ser tantos
chega de fingir
só assim escrever
de verdade
com verdade
sentindo tão além dos recursos
como este que nem sequer finaliza
entenda como um grito e que não sirva de exemplo




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meras sensações


quero ter a maestria
de quem reconhece que
tudo é sensação

dissimulo a dor
menosprezo os impasses
deslindo os enigmas

não submeto-me à desgraça
sou um fugitivo da solitude
no entanto, audacioso

vivo a esperar tudo que possa vir
vivo a querer ser tudo que posso
vivo a desejar novos dias

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Antonio LaCarne

Antonio LaCarne é um poeta cearense, nascido em 1983. . Seus textos estão presentes em revistas e suplementos literários.
Formado em Letras-Inglês pela Universidade Federal do Ceará, é autor dos livros Salão Chinês (Patuá, 2014) e Todos os poemas são loucos (Gueto Editorial, 2017). Participou das coletâneas A Polêmica Vida do Amor (Oito e Meio, 2011), A Nossos Pés (7Letras, 2017) e Golpe: antologia-manifesto (Nosotros Editorial, 2017).



transformação número 1


os tigres dançam
no mesmo círculo
em que desmarcamos
encontros esta noite
enquanto é cedo
ou tarde no planeta
perceber que as janelas
se partem
o mundo suspende
os rostos e as flores
que precisam de água
mas somente eu
viro o rosto
não sei se as ruas
mentem ou caem
por si mesmas
nem se o universo
deixou de existir
ao fechar os olhos
mergulhar na água
boiar na piscina
evitar a bebida
por isso ao longe
alguém se perde
não quer voltar
e abre um livro
para esquecer.




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não é difícil amar você


o céu se perde em mim
mas não em você
e corremos separados nesta praia
onde os homens
dançam
sorriem
esquecem que eu também
sou humano
mas não posso encarar você
ou subir numa árvore
e pular lá de cima
como se eu fosse uma pedra
que você segura
e lança na água
e eu afundo
e é raso
e eu me perco
pois ninguém imagina
que na água existe um pedaço
de mentira ou verdade
que você escondeu
ou não quis.




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coraçãozinho


numa fortaleza você e eu caímos
transbordamos numa piscina nua
seus azulejos gastos e os dentes como os nossos
não plantariam flores ao redor
ou seríamos ambientes nulos
mal decorados
eu me pergunto
se aqueles poemas são realmente sinceros
se vocês realmente se importam
com a política
com o outro
com a menina suja de sangue
a tarde que cai como qualquer frase
e você pensa “isso é tão clichê”
o vento rodopiando o boy na plantação de milho
o roseiral desfeito
o açougue por limpar
as horas que não são coloridas
pois preciso urgentemente reler aquele texto
me aprofundar demais dentro de mim
dentro do mar que eu mergulharia
as declarações e o preconceito velado
não sei o que fazer com isso, eu penso
menino sujo de sangue
eu que me derramei e que me pus a ofender.




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os rostos


as cascas são secas
os rostos das pessoas
os deuses periféricos
as propagandas de Gatorade
os sachês de ração dos gatos
são secos os rostos
os cabelos das bonecas
o ticket alimentação ao meio-dia
os colchões de molas
as it girls, os it boys
a porta do quarto trancada
você não está dentro
nem fora.