João Gabriel Madeira Pontes é
um poeta brasileiro nascido em 1992.
Formou-se em Direito pela Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Em outubro de 2016, lançou seu livro de
estreia, Indiscrição, pela
editora Kazuá.
Já teve seu trabalho publicado nas revistas
brasileiras Modo de Usar & Co., Escamandro, Mallarmargens, Gueto, Diversos Afins, e nas portuguesas InComunidade e Enfermaria 6.
Rebanhos rebeldes
Almas
desesperadas eu vos amo.
Murilo Mendes, Mapa
Isto
não é um poema.
Isto
é uma compilação
de
bilhetes suicidas.
Homens
aflitos,
meus
irmãos de lama,
emprestai-me
vossos oráculos.
Anjos
degredados das Américas,
ex-votos
irrecuperáveis,
andrajos
em romaria,
somos
a membrana esticada sobre o fuste,
não
o som que o tambor produz.
Gloriosas
vozes da África,
o que é o talento
para os acumuladores
compulsivos?
–
Ave, parricidas sanguinários!
–
Ave, renitente pedra de Sísifo!
– Ave,
Imperator, morituri te salutant!
Totens
– sem tabus – da Europa,
cujas
fornalhas devoram
os
melhores exemplares
das
melhores estirpes
e
cospem
peles & ossos & falos
condecorados,
lede,
na fachada
das
repartições públicas
e
nas sedes
das
burocracias,
as
austeras letras garrafais:
ARBEIT MACHT FREI.
Sábios
camaleônicos da Ásia,
Crusoés
tatuados da Oceania,
Manoel
de Barros está morto.
E
morreu porque ainda preferimos
a
funcionalidade dos manuais de especulação financeira
à
beleza humilde
das lagartas.
Inércia,
meu único destino.
Inércia,
o único destino dos homens
de
meu tempo, de meus iguais.
Ao
menos, conforta-me a fantasia de que os mártires também
teriam
lamentado a partida definitiva do poeta se tivessem
idade
suficiente para entender o que ela representa.
Gondwanas
tresloucadas,
Laurásias
perplexas,
em
uma surrada tira de papel, designei-vos
algumas
tarefas:
1. arrancar da mão do professor
misericordioso o giz;
2. ressuscitar Lázaro;
3. trocar a lâmpada queimada no
quarto de hóspedes;
4. do barro, fazer um deus que se
admita negligente.
Sou
aquele a quem tentam convencer
de
que não sou,
uma
palavra à qual se impõe
univocidade.
Falsas
Pangeias globalizadas,
deixai-me
admirar, delirantes
como
magníficas alucinações,
as hecatombes.
Ei-las,
à sombra imortal
das
pirâmides do tempo,
as hecatombes!
#
Além
das montanhas,
através
da cerração,
o
vidro trincado.
Teia
no vidro no vale.
Na
varanda, gaiolas
sem
pássaros.
A
tela de proteção
indica
a presença
de
crianças ou de bichos
de
estimação.
O
chão é de granito,
é
frio.
Não
há porta-retratos.
As
fotografias estão
guardadas
porque
encarar
a passagem
do
tempo nos torna
um
pouco mais graves.
Antigos
móveis
reformados
decoram
os
cômodos.
Antigos
sentimentos
reformados
decoram
os
corredores escuros
do
coração da mãe.
Os
vestígios do cigarro
nas
mãos e no hálito do pai.
Dois,
três, quatro maços
por
dia – isso é exagero.
Pare
de fumar ou você
não
verá seu filho crescer.
O
menino convulsiona.
É
febre.
Não
é necessário buscar
explicações
para uma febre.
Febre
é uma febre é uma febre
é
uma febre.
Cuidado,
leitor desavisado:
isto
não é uma homenagem
a
Gertrude Stein.
O
título era apenas um chamariz
covarde.
Mea culpa.
O
menino amadurecerá e as febres
cessarão
quando ele completar
setenta
e duas primaveras.
Não
o sufoque, deixe-o brincar.
O
que ele gosta de fazer?
Ele
gosta de andar de bicicleta
e
de montar quebra-cabeças e
ele
quer um cachorro & um irmão mais novo,
pois
está cansado de ser
filho
único.
O
menino se impressiona
com
os filmes que passam na televisão
e
inventa palavras antes de dormir.
O
menino gosta do cheiro de mofo
na
coxia do teatro.
Os
refletores que iluminam a boca
de
cena remontam às velas no altar
de
uma igreja: lanternas mágicas.
E
há uma igreja no colégio que
o
menino frequenta e isso o perturba.
Um
mosteiro sobre uma colina.
O
trágico & o sagrado perseguem
o
menino.
Deus
a conta-gotas ou Sófocles em pedaços:
qual
deles detém
a
resposta definitiva?
qual
deles ajudará
o
menino a escrever
uma
homenagem a Gertrude Stein?
Além
da cerração,
através
das montanhas,
o
vale trincado.
Vidro
na teia no vidro.
Nas
gaiolas, varandas
sem
pássaros.
As
crianças & os bichos
de
estimação
indicam
a presença
de
tela de proteção.
O
chão é de porta-retratos,
é
grave.
Não
há granito.
O
tempo está
guardado
porque
encarar
a passagem
das
fotografias nos torna
um
pouco mais frios.
Antigos
cômodos
decorados
reformam
os
móveis.
Antigos
corredores
decorados
reformam
os
sentimentos escuros
do
coração do pai.
Os
vestígios das mãos e do hálito
nos
cigarros da mãe.
Dois,
três, quatro maços
por
filho – isso é exagero.
Pare
de fumar ou você
não
verá seu dia crescer.
Gertrude
Stein convulsiona.
É
explicação.
Não
é necessário buscar
febres
para uma explicação.
Explicação
é uma explicação é uma explicação
é
uma explicação.
Desaviso,
leitor cuidadoso:
isto
não é uma homenagem
ao
menino.
O
mea-culpa era apenas um chamariz.
Título
covarde.
As
primaveras amadurecerão e Gertrude Stein
cessará
quando ela completar
setenta
e duas febres.
Não
a deixe brincar, sufoque-a.
O
que ela gosta de fazer?
Ela
gosta de andar de quebra-cabeças
e
de montar bicicletas e
ela
quer um filho único & um cachorro,
pois
está cansada de ser
irmã
mais nova.
Gertrude
Stein se impressiona
com
as palavras que passam na televisão
e
inventa filmes antes de dormir.
Gertrude
Stein gosta do cheiro de teatro
no
mofo da coxia.
Os
refletores que iluminam o altar
de
uma igreja remontam às velas na boca
de
cena: colinas mágicas.
E
há um colégio na igreja que
Gertrude
Stein frequenta e isso a perturba.
Uma
lanterna sobre um mosteiro.
Gertrude
Stein persegue
o
trágico & o sagrado.
Sófocles
a conta-gotas ou Deus em pedaços:
qual
deles detém
a
homenagem definitiva?
qual
deles ajudará
Gertrude
Stein a escrever
uma
resposta ao menino?