Thiago Camelo é um poeta, letrista e cineasta
nascido em 1983 no Rio de Janeiro. Formado pela PUC-Rio, publicou dois livros
de poesia: Verão em Botafogo (2010,
7Letras) e A ilha é ela mesma
(2015, Moça Editora).
Publicou também o conto A carne, as coisas pelo
selo Megamíni (2015, 7Letras) e o livro-poema Silêncio pela coleção Puxadinho (2016, Pipoca Press).
A ilha é ela mesma teve apoio da
Bolsa Criar Lusofonia, concedida pelo Centro Nacional de Cultura (Lisboa,
Portugal).
Além de poeta, Thiago Camelo é letrista; em
2015, a canção “Espelho d’água”, parceria com seu irmão
Marcelo Camelo, foi gravada por Gal Costa no disco “Estratosférica”.
Thiago também mantém o projeto de vídeo "Estuários", no qual
edita filmes-diário que podem ser assistidos clicando aqui, além de seu blog-tumblr,
Rua das Gáveasonde pode ser encontrado mais sobre ele.
Abaixo, quatro poemas de seu último livro, A ilha é ela mesma.
(Foto por Saulo Frauches)
Lugar
pequenos
espaços
coisas como são
sem o caos e toda estranheza
o caminho imprevisível das espumas
da fumaça
de suas possibilidades
coisas como são
sem o caos e toda estranheza
o caminho imprevisível das espumas
da fumaça
de suas possibilidades
sem
repensar o que está por trás
pelos lados ou por toda parte
um convite pra ficar
pelos lados ou por toda parte
um convite pra ficar
não
há mais o que pedir sem ironia
mas eu queria pedir essas coisas
sem espumas ou fumaça
sem nenhuma dimensão
mas eu queria pedir essas coisas
sem espumas ou fumaça
sem nenhuma dimensão
não
sei imaginar dimensões
tantas palavras
e eu procurei
eu jurei palavras
todos os tipos de palavras gravadas
nestes espaços tão pequenos
viver nestes pequenos instantes
das palavras como dizem
no pequeno espaço das coisas como são
tantas palavras
e eu procurei
eu jurei palavras
todos os tipos de palavras gravadas
nestes espaços tão pequenos
viver nestes pequenos instantes
das palavras como dizem
no pequeno espaço das coisas como são
#
Rastros
maré
explode e expõe o tempo
de modo tão evidente
que aponta ao olhar
de modo tão evidente
que aponta ao olhar
em
meio a tudo
a vida dos bichos que vivem menos
a primeira pessoa a abrir a casa
a primeira vez distraído na cidade nova
a vida dos bichos que vivem menos
a primeira pessoa a abrir a casa
a primeira vez distraído na cidade nova
a
vida na obstinação quase imprópria do artesão
que talha como um náufrago
até avistar
intuir nas mãos
os rastros
que talha como um náufrago
até avistar
intuir nas mãos
os rastros
procura-se
fagulha igual todos os dias
num
dia de sorte
finalmente
as coisas ficam vivas; um prédio fala com a gente
finalmente
as coisas ficam vivas; um prédio fala com a gente
#
Luz
olha-se
sempre
toda vista é espera
toda vista é espera
até
o espelho anseia
mira por cima dos ombros
mira por cima dos ombros
o
míope tenta se abrigar
experimenta
na ausência de contornos
não querer
experimenta
na ausência de contornos
não querer
de
olhos fechados
a vida circula no avesso
o corpo é negro, não reflete
o sangue caminha no escuro
ainda não é vermelho
a vida circula no avesso
o corpo é negro, não reflete
o sangue caminha no escuro
ainda não é vermelho
#
Rocha
a
ilha é no mar
no vento
no barco
no pássaro
no arquipélago
na terra
mas também, nela
no vento
no barco
no pássaro
no arquipélago
na terra
mas também, nela
a
ilha é ela mesma
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