quarta-feira, 12 de abril de 2017

Alice Sant'Anna

Alice Sant'Anna é uma poeta nascida em 1988 no Rio de Janeiro.
Publicou Dobradura, seu primeiro livro, em 2008 pela editora 7Letras, e obteve boas críticas e comentários.
Em seguida, lançou duas obras independentes: Bichinhos de luz (2009) e Pingue-Pongue (2012), em coautoria com Armando Freitas Filho.
Em 2013 consagrou-se como uma das principais vozes de nossa geração ao lançar, pela já (infelizmente) extinta Cosac Naify, o livro Rabo de Baleia.
Sua publicação mais recente é o longo Pé do ouvido (Companhia das Letras, 2016).
A voz poética de Alice é delicada, frágil, mas em nada fraca ou menor. Não deixa a desejar.
Ela apresenta intimidades que nos aproximam de seu mundo, seus pensamentos, e ao mesmo tempo nos deslocam para questionamentos e observações acerca de nossa própria realidade.
Como afirma Heloísa Buarque de Hollanda, Alice escreve de maneira subliminar uma poesia que pontua e modula o seu cotidiano.
Embora jovem, ela apresenta uma escrita madura e enriquecedora.
Abaixo, um poema recente de sua autoria.

(Foto: Alexandre Sant'Anna)




você ficou de escrever
assim que chegasse
alguma notícia desse país
que você deixou faz tantos anos
já não sabe se sente saudade
mas pensando bem
o que você deixou
nem existe mais
a graça de nascer
em uma cidade
é saber que essa cidade
te espera
pra sempre
mesmo que as pessoas morram
as plantas e os gatos dos vizinhos
e mesmo que os vizinhos
também morram
a graça de nascer em uma cidade
é decidir
ficar ou abandonar
a cidade pra sempre
se bem que isso
de pra sempre
vá lá
não tem muita importância
é verdade que alguma coisa
continua à sua espera
uma caixa de leite
vencida na despensa da casa dos pais
um envelope com códigos de barra
de uma promoção
que você acabou por esquecer
de postar no correio
talvez um papel de carta
precioso demais
pra ficar guardado
precioso demais
pra ser jogado no lixo
as luzes de natal nos postes
o horário de verão
alguma coisa
na cidade talvez te espere
embora outra coisa
uma sombrinha que serve
nos dias de chuva
e nos dias de sol
sempre se perca

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