segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Quatro poemas inéditos de Carla Diacov


Carla Diacov é uma poeta nascida em São Bernardo do Campo, SP, Brasil, em 1975. Formada em Teatro, estreou em livro, além da participação em algumas antologias, com Amanhã Alguém Morre no Samba, (Douda Correria, Portugal, 2015). Tem participação em diversas revistas on-line e impressas. Se atraca com as artes plásticas o tempo inteiro, movimento que a serve a construir em conjunto de matérias ou que a traz de volta às letras somando algo da extração da borracha. Gosta de abordar o sangue. Tende a ser serial. Em Agosto de 2016, publicou A metáfora mais Gentil do Mundo Gentil, (Macondo Edições). Em 22 de Setembro vê lançado o primeiro volume de Ninguém Vai Poder Dizer Que Eu Não Disse (Douda Correria, Portugal, 2016).
Os quatro poemas abaixo são inéditos e foram retirados do livro Ninguém vai Poder Dizer que Eu Não Disse I,seu terceiro livro, que será lançado em 22 de Setembro, no Bar Irreal, em Lisboa, Portugal. É o primeiro volume da série com pequenos poemas, ainda que a maioria no formato prosa. Testados/lançados primeiramente aqui e ali, em “salas” da internet. Em suas palavras, o livro faz parte de uma "série que, no caminho que faz, em sua essência, gritam meu íntimo, incluindo nela fragmentos do episódio em que fui brutalmente apaixonada e então brutalmente agredida pelo acidental e efêmero amasiado (o cavalo. o falso cego. cavalo de bengala?). Mas não vamos ofender tão lindo ungulado. Então posso dizer que poeticamente temos aqui um livro do cotidiano, pequeníssimos manifestos, axiomas, enunciações de várias fases (dolorosas, bonitas, pulcras, estragadas, desempoadas) entre hematomas e sorrisos apaixonados, claro, se valendo do lirismo para melhor ser."






retalha meu couro: tentamos prender o penhasco assim pinçando com os dedos. VOCÊ ME MORDE LONGE DEMAIS. ESTOU BEM ESTOU BEM. retalha meu couro. todo dia. tentamos pender o penhasco. penhorar. vender. mas gememos e logo não e então pinçar um albatroz pinçar uma das costelas de um barco morto na areia imensamente negra.


#


fico repousando a cara sobre o teu perfil. fico repousando a carla fico repousando a malha das coisas que quero escrever e não escrevo nunca porque a maré porque o vendedor de espelhos porque eu preciso porque eu pretendo e fico. uma tarde e meia. é o tempo que tenho desde que lancei meu corpo ao caldo disso. aguarda um jardim de abóboras o lírico chafariz enquanto eu te gosto e tanto.


#


UM FILME DESSES NÃO SE VÊ EM QUALQUER TEMPO. aponta uma porta de papel. outra de papel de arroz. numa delas um desenho: CADA SEGUNDO UM RISCO QUE CORRO DE NÃO FICAR OUTRA VEZ CORAÇÃO. um filme desses não se vê em qualquer fôrma. QUE DESENHO PORNOGRÁFICO: aponta uma porta de pano molhado: O PASSARINHO QUE TINHA DOIS CORAÇÕES.


#


na escavação para que a expansão do metrô da cidade de são paulo
sob o sol de janeiro o ar poeirento penetra
a palavra antes do pensamento
alguém grita NAPOLEÔNICO outro alguém grita BICHA DIVA
outro outro alguém grita ALGUÉM ESTÁ NO MEIO DE NÓS ENVOLTO ENTRE NÓS
outro outro outro alguém sussurra ELEVAI OS PENSAMENTOS E PINCÉIS
a linha é pink e fará nó com a linha glitteriosa
NAPOLEÔNICO ENVOLTO ENTRE NÓS ESCALDA MÃE ESCALDA PÉS
mais um outro SÊ! SÊ E SÊ!
o que sussurra ESCAVA PINCELA CATALOGA CALA VÁ-TE
o primeiro NÃO PODEMOS
na escavação para que a expansão do metrô da cidade de são paulo
sob o sol de janeiro o ar poeirento penetra
a salvação antes do pensamento
NÃO PODEMOS ESVOAÇAR O DITO


Nenhum comentário:

Postar um comentário