segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Elizabeth Gomes


Elizabeth Gomes, Beth, é uma poeta, agente e agitadora cultural nascida em 1993, no Rio de Janeiro.
É editora de poesia do Site da Baixada, idealizadora e produtora do Sarau RUA (que acontece mensalmente na cidade de Nilópolis) e uma das idealizadoras da Feira Mais Livro, colaboradora do Sarau do Vulcão, além de realizar a intervenção poética itinerante Poema Fiado.
Cursa a graduação em Museologia pela UNIRIO e desde 2013 trabalha com curadoria de artes plásticas e patrimônio histórico-cultural.
Adepta e amante de livretos artesanais, começou em junho de 2015 uma série chamada Datilografia em Conta-gotas.
A escrita que foge por seus dedos derrama no papel o amor que sente pelas coisas do mundo e é em meio ao caos, principalmente, que acha suas soluções.
Os poemas a seguir são inéditos.



três (2/36)

Eu poderia largar o cigarro
e em passos largos
me largar de cabeça
no teu peito

Eu poderia
em vilas gaivotas
acidentadas
ou portos brancos,
velhos
a(r)mados
fodidos
e usados
Abrir a janela ao lado
pro vidro corrente de ar
e quebrar com um só impulso
no pulso-coração
o cunho da estrada
voando baixo
nas linhas brancas
ou me arrastando
pelas sujas de bordô e carmim

Eu poderia até mesmo
te cobrir
com meu já empoeirado
manto carmesim

Poderia
em toda via
secar o viável viés
de naufragar o desejo
de morar aos teus pés

Poderia quiçá
no todo do ódio
que te corrompe o sutil codinome
Morrer de desejo
de pavor
de terror
na ira da angústia
de suprir tua fome

Quebrar os limites
e também a gaiola
sufocar com as correntes quebradas
o todo do mal que te apetece

Eu poderia tudo isso

Se com sorte
algum dia
com teu andar-vôo
nas minhas linhas-letras-tortas-poesia

Você também me pudesse.



#




[das epifanias na Praia do Pontal - 2]

Poupa essa minha voz
Cansada e rouca
Que agora me alimento
De céu
E me basto
Na ausência de tudo
Que é seu

Te entrego um poema de despedida
E te aconselho
A ter tato,
Bons sonhos,
E um caminho fácil e longo
Ao seguir pela vida

Aproveita e conhece na estrada
Alguém muito melhor do que eu
Tira o véu vermelho
Que tampa teu rosto
Se encontra na cama
E vê se agora finalmente ama
O primeiro que passa
E, tão ao contrário de mim,
For teu oposto

Mas vê se não vive
De dor e remédio
Que o tédio
Dos dias sem graça
Que nos abraçaram com força
Eu desejo aqui do fundo
Que não encontre
No calor dos braços
De qualquer outra moça

Vive de amor,
Poesia,
E calor
Com a maestria
Do vento
que teu andar torto
em sintonia
com a escola de samba
dos meus batimentos
pode trazer
a qualquer outra
que tenha a satisfação
de dançar com você

Devolvo teu livro
teu crivo
a foto guardada
e aquele velho isqueiro
na certeza
de que se o fogo dele
ainda acendesse
queimaria os papéis
e teu cheiro

Em vez disso te faço perfume
e o frasco dispenso
em qualquer ser vivo
além de mim
Me altero na escrita
do gume das palavras
que declaram
no teu primeiro e último poema
o suor aguardado do fim

E no conto
contido
que travesti de poema
de linhas tortas
e pouca métrica
Baseada somente
no pouco de mim
que ainda sei
Eu inflamo um adeus
que nunca te dei

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