terça-feira, 2 de agosto de 2016

Tiago D. Oliveira


Tiago D. Oliveira é um poeta, professor e pesquisador nascido em 1984, em Salvador – Bahia. Estudou letras na Universidade Federal da Bahia (UFBA) e na Universidade Nova de Lisboa (UNL).
Tiago tem poemas publicados em portais, revistas e jornais especializados como Cultverso, Cronópios, Hyperion, Escamandro, Enfermaria 6 e jornal Livre Opinião.
Em 2014 publicou Distraído, seu primeiro livro de poesia.
Atualmente desenvolve pesquisas sobre a ética dos afetos em formas breves na literatura portuguesa e escreve regularmente em seu blog.
Sua poética direciona-se para o cotidiano e seus assombros, e demonstra um olhar atento para o sutil e muitas vezes ignorado mundo das percepções imediatas. Para ele, a vida é feita de pequenos gestos, e do olhar direcionado ao outro.




Primeiro passeio de bicicleta
O homem que pedala que ped’alma
com o passado a tiracolo,
ao ar vivaz abre as narinas:
tem o por vir na pedaleira.
Alexandre O’neill

nos pedais o corpo
alto e baixo nos pedais
os dias sob a nudez
do metal lírico
cortando o tempo
a velocidade que atrai
passou o cheiro do mato verde
sobre o guidão: refluxo
pedalo perto do chão
flutuo com as marcas
sob os olhos
são os dias
tudo cabe nos pedais
o corpo alto e baixo nos pedais


#


Segundo passeio de bicicleta

pedalo sem as mãos na direção
com o corpo em formato de cruz
tendo o caminho para a fé
dentro das ondulações do movimento
as respostas se organizam
tudo está nos pedais


#


A lei de causa e efeito

é movimento
como perceber na imagem o trem que passou
dançar acontece
diante da fumaça nos trilhos
para onde vamos é sempre ontem
as marcas que carregamos são
o segredo morando nos ossos
dançar é ganhar a confiança
de um corpo que carrega fim
é detê-la na imagem de folhas caídas
é o ar inspirado depois da gargalhada
por isso também cantamos
por não domarmos a nossa fé
é preciso dançar para compreender a dança
e entender o bumerangue


#


Você não consegue sentir duas dores ao mesmo tempo, uma anula a outra

uma pontada na cabeça
a fez pensar na morte
agarrou-se às fotografias
e de olhos fechados esperou
ele lhe deu um bofete
depois riram e rezaram
para Baco com o estômago
rim língua ponta dos dedos sexos

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