Hera de Jesus é
uma poeta nascida em 1989, em Maputo, Moçambique. Começou a escrever desde
cedo.
Foi
premiada em diversos concursos literários africanos.
A carta de um mineiro
Mamana Maria (mamã Maria)
Ungarhile,
unga rhile
Não chores mamã
Maria
Unga rhile (não
chores)
Voltarei um dia
Como um filho refugiado em terras alheias
No coração a dor do abandono
Na ku xuva mamani Maria
Como um filho refugiado em terras alheias
No coração a dor do abandono
Na ku xuva mamani Maria
Não escondo a
emoção camuflada nestas lágrimas secas
Unga rhile mamana
Maria
Não chores mamã Maria
Sou semente dispersa
Nessa vida de mineiro não sei o que me espera
Vivi nesta ilusão de voltar um dia
Beijar, de cócoras, as
entranhas da minha terra
Não chores mamã Maria
Sou semente dispersa
Nessa vida de mineiro não sei o que me espera
Vivi nesta ilusão de voltar um dia
Beijar, de cócoras, as
entranhas da minha terra
Não chores mamã
Maria
Unga rhile mamana Maria
Ni ta vuya, mine xilhangui xaku (voltarei, eu, filho teu)
Ni ku nyika swiluva hi mbilu ya mina hinkwayu (vou oferecer-te flores de todo o meu coração)
Unga rhile mamana Maria
Ni ta vuya, mine xilhangui xaku (voltarei, eu, filho teu)
Ni ku nyika swiluva hi mbilu ya mina hinkwayu (vou oferecer-te flores de todo o meu coração)
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Dolinda
Aquelas mãos
entrepidas
No escuro da noite
Mapeiavam o teu
corpo desferido pelo xibalo
Teus gritos
abafados,
Não foi Dolinda?
Teus sussurros não
eram gemidos
As lágrimas em
teus olhos denunciavam o medo
Aquelas faces se
riam
Teu corpo jovial,
era o pião rodando ao chão
A cada fisgada da
corda
As cicatrizes
outrora não se calam
Não foi Dolinda?
A dor rasga-te o
peito
O sangue ainda
corre pela tua fonte
Por aqueles
guardas um grande despeito
De se terem
adentrado sem amor no teu ventre
Não foi Dolinda?
Deolinda, eram
valungos
Eram os colonos
Era a pátria toda
Eram os vagabundos
Eram aquelas faces
que se deleitavam da tua inocência
Não foi Dolinda?
~~~~
Pequeno vocabulário
Valungos – expressão usada para designar
o homem branco na língua Xangana (sul de Moçambique);
Xibalo – trabalho forçado (expressão
usada na era colonial, durante a dominação colonial portuguesa em Moçambique).
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