Victor
H. Azevedo é um poeta e ilustrador nascido em Natal, Rio Grande do Norte, em 1995. Publicou 12 canções (2015), Passeio
Cadente (2015) e Põe duas horas no
super nintendo qu'eu quero esquecer da minha vida (La Bodeguita, 2016).
Abaixo, três poemas que apresentam um pouco de seu universo.
(Foto de Regina Azevedo)
Estamos viúvos daquelas despedidas
Seculares e inditosas
Onde os braços eram guindastes
E o peito de cada camarada
era uma árvore condenada pela saudade.
Daquela época
Restou somente uma dormência
Engendrada nos coretos enciclopédias
e carros-fortes.
Estamos órfãos, desguarnecidos
porque todos andam a fugir dessa terra
Sem deixar recados na recepção.
Seculares e inditosas
Onde os braços eram guindastes
E o peito de cada camarada
era uma árvore condenada pela saudade.
Daquela época
Restou somente uma dormência
Engendrada nos coretos enciclopédias
e carros-fortes.
Estamos órfãos, desguarnecidos
porque todos andam a fugir dessa terra
Sem deixar recados na recepção.
Agora nada mais chega a abalar esta floresta
De cabelos crespos e frutas explosivas.
Não se ouvem mais hurras
Ou boiadas passeando pelo café
Ou indecisos tomando o bonde
Antes mesmo dos galos descobrirem-se
Proprietários das auroras ainda criança.
Ao cruzar essas ruas castradas
Vejo gente que aparenta ter acordado
Em uma cama acolchoada de pedras
e arrependimentos.
Mulheres feias
Carregando no colo sua prole truncada
E de caligrafia tão paralítica.
Homens broncos
Abarrotados até a borda
De um olhar genocida.
Até mesmo os pardais e os cães
Parecem estar tristes
Com a infestação de gaiolas e canis
Em meios às próteses dentárias.
Não sei se algum perfume, se algum salmo
Iria validar meus pés medianos
Sem que eu mordesse os prédios
Pensando que fossem pão.
Iria validar meus pés medianos
Sem que eu mordesse os prédios
Pensando que fossem pão.
E por entre os escombros e o relincho dos ignorantes
Sobra a sombra
Mas não o sopro.
Que varre a poeira do meu tronco
Que lustra os copos transparentes
Mas vazios
Aonde bebíamos néctar às sextas-feiras
E aonde entornávamos o medo
Em dias indefinidos.
Já não se pode mais dizer adeus
Sem que sejamos lúcidos demais
E algo comece a estrangular o destino.
O mesmo destino que antes tinha
Um revólver apontado
Para as nuvens que saiam do rebanho
E que agora anda curvo e descalço
Com unhas quilométricas
Sem saber que rumor usará
Como novo norte.
#
Pomo
tu maldizendo pelos alto-falantes da catedral
que sou um naco precioso do infinito, sem
reticências na língua, um sonhador obsessivo
compulsivo que tem a boca com gosto de açaí.
que sou um naco precioso do infinito, sem
reticências na língua, um sonhador obsessivo
compulsivo que tem a boca com gosto de açaí.
faleço de vergonha quando tu faz isso.
e de nada me adianta minerar com meus dedos
calejados de tanto estrangular o piano uma
literatura que sirva de passaporte para o
Kilimanjaro ou a Katmandu, porque esta é a
quinquagésima nona vez que eu tento
te escrever algo que não pareça
escrito em cuneiforme.
calejados de tanto estrangular o piano uma
literatura que sirva de passaporte para o
Kilimanjaro ou a Katmandu, porque esta é a
quinquagésima nona vez que eu tento
te escrever algo que não pareça
escrito em cuneiforme.
adormeço no teu ombro que é igualmente
uma pista de aterrissagem ao entoar do mantra.
do mantra dos pneus do ônibus em uma estrada
plácida. do mantra da geladeira às 11h43 quando
os camundongos ceiam nas esquinas da cozinha.
do mantra do ventilador com a carapaça aberta.
uma pista de aterrissagem ao entoar do mantra.
do mantra dos pneus do ônibus em uma estrada
plácida. do mantra da geladeira às 11h43 quando
os camundongos ceiam nas esquinas da cozinha.
do mantra do ventilador com a carapaça aberta.
minha mãe pediu para enxugar seus pés de porcelana
depois que a enchente veio sem precedentes
esvaziar essa casa de qualquer espécime de estrondo.
depois que a enchente veio sem precedentes
esvaziar essa casa de qualquer espécime de estrondo.
e mesmo assim não sou capaz de hastear
uma bandeira que comova toda uma massa
a contemplar a fumaça nos tênis do maratonista.
uma bandeira que comova toda uma massa
a contemplar a fumaça nos tênis do maratonista.
voltando dos comerciais te falo de novo da minha mãe
e que ela queria que eu fosse um beagle
disso tenho setenta e oito por cento de certeza.
e que ela queria que eu fosse um beagle
disso tenho setenta e oito por cento de certeza.
qual o propósito de comer melão
no intervalo de uma escavação
se eu não posso construir um forte
com gravetos e açúcar e agulhas depois.
no intervalo de uma escavação
se eu não posso construir um forte
com gravetos e açúcar e agulhas depois.
preciso que alguém leia meu terceiro livro
de poemas que guardo embalado em um atlas
e esmurre meu peito com o punho benzido
de cobre e lírios hiperventilados.
é desse tipo de elogio que preciso.
de poemas que guardo embalado em um atlas
e esmurre meu peito com o punho benzido
de cobre e lírios hiperventilados.
é desse tipo de elogio que preciso.
estudei sobre a poesia das formigas de fogo
quando a primavera ainda era a temporada
de germinação dos santos. aprendi que os homens
na angola são excelentes manicuros e que o artista
jubiloso que mora no que foi a segunda capital
desse país é áspero e lustroso como um de seus cinzeiros.
quando a primavera ainda era a temporada
de germinação dos santos. aprendi que os homens
na angola são excelentes manicuros e que o artista
jubiloso que mora no que foi a segunda capital
desse país é áspero e lustroso como um de seus cinzeiros.
escrever para os distraídos é tarefa dos vencedores.
está é a quinquagésima nona vez que te assassino
sem dizer o mínimo de palavras requisitadas.
está é a quinquagésima nona vez que te assassino
sem dizer o mínimo de palavras requisitadas.
#
Somos
pássaros extintos.
Nosso
nome científico não
está
nos livros de biologia
muito
menos nos calhamaços
que
sustentam os sonhos onívoros.
Temos
nossas penas tingidas de
dilúvio,
fermentadas de arrepio.
E
mesmo assim nosso ninho
é
rodeado pelo indefinido das
espadas.
A saliva das nossas asas
limpam
a garganta dos solitários.
As
brasas que respingam do
nosso
pouso alimentam as
pequenas
santidades. Em dias
movediços&
adolescentes, ficamos
pelas
redondezas, mordiscando
a
orelha dos namorados. Bebericando
desse
sol sonífero. E não há
jaula de dedos que vá nos capturar
e nos colocar em exposição.
e nos colocar em exposição.
E o barco segue adiante
ResponderExcluircarregado por ventos arredios;
cada vez mais longe...