sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Três poemas inéditos de João G. Junior




Chumbo que respiro

ventania é o prenúncio
de mudanças
a madrugada se guarda
toda para os cantores tristes

afinal continuo na torcida
ou decoro a bandeira do tédio
toda fruta esquecida
apodrece sobre a mesa

a lentidão dos dias
não diz muita coisa
mas cabe o necessário
em imagens de portas fechadas



#



O que fica pra trás

seiva do veneno que tomo
luto para perpetuar o brilho
das marcas da casa cada móvel
em seu devido lugar dia após dia
as raízes das teias seguras
não demonstram a fraqueza do inseto

parece que os totens
se construíram
sobre areia movediça
que as palavras ditas não diziam
o que pareciam dizer

há certo afogamento
que desperta os piores instintos
soterrados por litros de mercúrio
emoção que cria e destrói com
a mesma facilidade da arte da perda



#



It’s all over now, blackbird

pode deixar
que você gosta de howlin’ wolf
na cama eu não contarei
é só uma queimadura
uma bolha que logo estoura
e cicatriza sem pus
entre todos os surtos
os jogos de planejamento
a necessidade do adeus
ainda faço café para dois
e carrego pra cama
a distância é grande
mas você está aqui

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