terça-feira, 18 de outubro de 2016

Poema inédito de André Monteiro

André Monteiro é um poeta e professor da UFJF nascido em 1973 em São João Del Rei, Minas Gerais.
Publicou os livros A ruptura do escorpião – Torquato Neto e o mito de marginalidade (Cone Sul, 1999), Ossos do ócio (Cone sul, 2000), Cheguei atrasado no campeonato de suicídio (Aquela Editora, 2014), Liubliblablá: mastigações de um camelo (Bartlebee, 2015), escrito em parceria com Luiz Fernando Medeiros, e Inacreditáveis: assovios antropopaicos (Editora Raquel, 2016), em parceria com Roberto Corrêa dos Santos.
Realizou os vídeos-poema Corações flutuantes (1992), O espetacular devir de casa (2000), Tudo que (2001), em parceria com Laly Martín, e o Elogio da claridade (2003). Participa, em Juiz de Fora, como compositor e intérprete, dos projetos poético-musicais Ou sim: música, poesia e outras esquina e Verbo em DISCOntrole.

Foto por: Stephan Rangel 


diagnóstico e revolução

1.
ainda querem fazer essa porra toda parecer muito fundamentada. ainda querem acreditar em resultados. mais ainda, em resultados esperados. mais ainda, querem nos cobrar os tais resultados esperados. mais ainda, querem nos vigiar para que encontremos o melhor dos resultados esperados. mais ainda, querem nos punir com satisfação quando não podemos mais fingir que acreditamos em possíveis resultados esperados. mais ainda, quando sabemos muito bem que eles não sabem nada, que eles não são mais, nem menos, videntes do que nós. mais ainda, quando sabemos que eles somos nós. mais ainda, quando nós podemos não ser como eles, ou, pelo menos, podemos, mesmo sendo eles, não ser o que eles esperam de nós. mais ainda, quando podemos ser nós-outros: os que não sabem deles, os que não sabem de nós, os que se sabem cegos, os que se sabem outros, os que se sabem os que não sabem nada e continuam se abraçando sem explicação, descobrindo que, desse jeitinho, sem explicação, essa porra toda fica muito mais gostosa.

2.
tá pensando o que, malandro? você tem que rebolar. rebolar pra caralho pra encontrar as brechas, pra construir os respiradouros, pra ler poesia pros seus insetos, pra quebrar o medo de amar e de esquecer os papéis em casa, pra não fazer a chamada, pra não ficar dando trocado pra vira-lata ressentido, pra jogar os medinhos pela janela, pra não ficar pagando o pau pros nomes que estão na listinha, pra se arriscar a dar o grito, pra amar sem recompensas, pra não dançar conforme a música, pra fazer silêncio, pra não se mexer demais e ouvir estrelas. tá pensando o que, malandro? rebola. delírio não se compra na farmácia.

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