quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Ray Cruz

Ray Cruz é um poeta que sobrevive na periferia da periferia de Brasília: Cidade Ocidental.
Em 2006 participou da micro antologia escolar Veias de Poeta. Em 2017 teve poemas publicados na antologia Seres da Noite, pela editora INDE.
É filho adotivo da Iluzine e posta seus poemas em sua página no Facebook, Deus Cadela, e em seu blog pessoal: Exu do Absurdo.



Bela


Bela devia ter uns 50 anos branca bronzeado câncer obesa com olhos verde esmeralda & dentes amarronzados bem tortos fumante de Euro voz de criança mentalidade fetal tetra-viuvinha prestes a se casar em um relacionamento abusivo ganhou um carro em um sorteio local & perdeu a passagem pra Paracatu-Mg desesperada lamenta & me oferece os cigarros de seu último maço segunda feira 02/01/2017 será que ela sobreviveu no infernal Valparaíso? nunca saberei eu devia ter decorado o número dela mas sinto que Belatriz está em um lugar melhor afinal foi ela que vigiou minhas malas.




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Tenho fé


perscrutando as superfícies do Incompreensível com olhos adictos mendigando esperanças zumbis cavo em busca do manual de instruções do sentir-se habitante do Tempo.

tenho fé em todos os pontos de interrogação talvez eu ainda não tenha aprendido a conjugar o verbo ser no período de uma ação tragam-me livros de gramática ou um mapa que envenene o desejo de partir.

enquanto me embriago com a indiferença cósmica que invade meus pulmões pungentes aceito que o sentido da vida é não haver sentido em crer haver algum sentido no processo de sentir existir

dependente de quimeras afáveis conquisto o mundo inteiro com o passo seguinte protelado e consagrado

tudo que não sei me maça amassa & embaça.




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L'espirit d'escalier


outra ressaca dislexia espiritual um inverno relâmpago do lado interno do esterno

o cinzeiro transborda minha pálpebra também não consigo beber essa sede

someone take these dreams away that point to me another day

um cadafalso me espreita em cada passo

Joy Division flambando minha autofagia meu riso retardado continua martelando algum parafuso frouxo na minha consciência insanitária

fechado para reforma tento digerir outro ontem que jamais vai voltar ou se repetir

um ego ereto machuca muita gente dois egos eretos machucam machucam MUITO maaiis

fechado para reforma este jardim de cactos assustado com o reflexo não quer mais esquecer sua omissão de cada dia seu foda-se engasgado enquanto narcisa nas poças sociais

não preciso mais de um dicionário pra entender a palavra ARREPENDIMENTO acendo uma vela para Santa Tristessa vejo seus olhos úmidos ancorando minha cabeça

fechado para reforma procuro a palavra SUPERAÇÃO amanhecendo em um horizonte maduro
someone take these dreams away that point to me another day

agora percebo porque a palavra E S C R O T O é um adjetivo que todo homem carrega

fechado para reforma eu só quero encontrar a palavra QUILOMBO escondida nas clareiras mais negras de nosso coração siamês 

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