Ray Cruz é um poeta que sobrevive
na periferia da periferia de Brasília: Cidade Ocidental.
Em 2006 participou
da micro antologia escolar Veias de Poeta. Em 2017 teve poemas publicados na antologia Seres da Noite, pela editora INDE.
É filho adotivo da
Iluzine e posta seus poemas em sua página no Facebook, Deus Cadela, e em seu
blog pessoal: Exu do Absurdo.
Bela
Bela devia ter uns 50 anos
branca bronzeado câncer obesa com olhos verde esmeralda & dentes
amarronzados bem tortos fumante de Euro voz de criança mentalidade fetal
tetra-viuvinha prestes a se casar em um relacionamento abusivo ganhou um carro
em um sorteio local & perdeu a passagem pra Paracatu-Mg desesperada lamenta
& me oferece os cigarros de seu último maço segunda feira 02/01/2017 será
que ela sobreviveu no infernal Valparaíso? nunca saberei eu devia ter decorado
o número dela mas sinto que Belatriz está em um lugar melhor afinal foi ela que
vigiou minhas malas.
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Tenho fé
perscrutando
as superfícies do Incompreensível com olhos adictos mendigando esperanças
zumbis cavo em busca do manual de instruções do sentir-se habitante do Tempo.
tenho
fé em todos os pontos de interrogação talvez eu ainda não tenha aprendido a
conjugar o verbo ser no período de uma ação tragam-me livros de gramática ou um
mapa que envenene o desejo de partir.
enquanto
me embriago com a indiferença cósmica que invade meus pulmões pungentes aceito
que o sentido da vida é não haver sentido em crer haver algum sentido no
processo de sentir existir
dependente
de quimeras afáveis conquisto o mundo inteiro com o passo seguinte protelado e
consagrado
tudo
que não sei me maça amassa & embaça.
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L'espirit d'escalier
outra
ressaca dislexia espiritual um inverno relâmpago do lado interno do esterno
o
cinzeiro transborda minha pálpebra também não consigo beber essa sede
someone
take these dreams away that point to me another day
um
cadafalso me espreita em cada passo
Joy
Division flambando minha autofagia meu riso retardado continua martelando algum
parafuso frouxo na minha consciência insanitária
fechado
para reforma tento digerir outro ontem que jamais vai voltar ou se repetir
um
ego ereto machuca muita gente dois egos eretos machucam machucam MUITO maaiis
fechado
para reforma este jardim de cactos assustado com o reflexo não quer mais
esquecer sua omissão de cada dia seu foda-se engasgado enquanto narcisa nas
poças sociais
não
preciso mais de um dicionário pra entender a palavra ARREPENDIMENTO acendo uma
vela para Santa Tristessa vejo seus olhos úmidos ancorando minha cabeça
fechado
para reforma procuro a palavra SUPERAÇÃO amanhecendo em um horizonte maduro
someone
take these dreams away that point to me another day
agora
percebo porque a palavra E S C R O T O é um adjetivo que todo homem carrega
fechado
para reforma eu só quero encontrar a palavra QUILOMBO escondida nas clareiras
mais negras de nosso coração siamês
Grande poeta! <3
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